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Agentes de Pando atuaram em massacre

16 de setembro de 2008

Funcionários do departamento boliviano de Pando, governado pelo oposicionista Leopoldo Fernández, participaram dos confrontos entre camponeses pró-Evo Morales e opositores do presidente que, segundo informações corrigidas ontem por La Paz, deixaram ao menos 15 mortos e 106 desaparecidos na quinta-feira.Relatos de sobreviventes, corroborados por imagens às quais a Folha teve acesso, mostram que atiradores dispararam contra camponeses que tentavam fugir a nado. A Polícia Departamental, que responde ao governo nacional, assistiu à cena sem intervir.Quatro dias depois dos confrontos, no centro de Porvenir, um casario de cerca de 3.000 habitantes, seis carcaças de veículos queimados ainda estavam na rua, junto a um parque infantil. Todos pertenciam aos camponeses, que fugiram a pé ou a nado. Ou foram mortos.”Fizeram uma emboscada”, diz o morador de uma casa vizinha à praça, que pediu para não ser identificado. “Dizem que os camponeses tinham armas, mas não vi nenhuma”. Ele insiste ter visto funcionários do departamento no confronto.Metros adiante, uma moradora, também sob anonimato, afirma que a maioria dos camponeses carregava paus e alguns portavam rifles.Na rua que termina no rio, outro morador de Porvenir disse que os camponeses foram perseguidos a tiros até as águas -os dois buracos de bala em sua casa têm essa trajetória.O confronto teve início na madrugada da última quinta, quando três caminhões com cerca de 340 camponeses vindos de Puerto Rico se aproximaram de Porvenir. O destino era Filadelfia, a 15 km dali. Segundo os camponeses, haveria ali um encontro de organizações que apóiam Morales.O comboio foi impedido de prosseguir por uma trincheira cavada por funcionários do departamento. Para justificá-la, o governador Leopoldo Fernández alegou que os camponeses “estavam armados e iam participar de um ataque contra os oposicionistas organizado pelo ministro da Presidência [Juan Ramón Quintana]”.Durante a tentativa de ultrapassar a barreira, um engenheiro do departamento morreu. Fernández diz que ele foi baleado, mas os camponeses alegam que ele morreu quando a sua camioneta se chocou com um carro do comboio.No início da manhã, os camponeses avançaram até o centro de Porvenir, mas foram barrados por cerca de 50 homens da Polícia Departamental de Pando, submetida ao governo nacional, para evitar o choque com a oposição.Aos poucos, os dois grupos incharam. Por volta do meio-dia, os opositores, fortemente armados, avançaram dos dois lados da rua, obrigando os camponeses a deixar seus carros e a fugir pelo rio Tahuamano, de 20 metros de largura. A polícia, dizem ambos os lados, nada fez. Uma seqüência de vídeo amador mostra que, durante a travessia, foram feitos disparos contra os que estavam na água.O governo boliviano afirma que provavelmente a maioria dos desaparecidos morreu a tiros quando estava no rio. A reportagem foi à sede da Polícia Departamental em Porvenir, mas o comandante de plantão não quis falar.Prefeitura incendiadaPor volta do meio-dia de ontem, a reportagem visitou o povoado de Filadelfia, sede do município, um reduto de apoiadores de Morales de apenas 120 habitantes. Ante a negativa de táxis, os 15 km de distância foram percorridos em uma moto.Na rua principal, ainda saía fumaça do que sobrou de uma pequena casa de madeira onde funcionava a Prefeitura, incendiada na madrugada de domingo. Todo o arquivo e dois meses de merenda infantil do município de 6.000 habitantes foram queimados, exceto por algumas cebolas ao lado das ruínas.Ontem, dez homens de uma força especial do Exército boliviano patrulhavam o povoado com metralhadoras e revólveres. “Eles estão muito assustados. Muitos moradores tinham ido dormir no mato e deixaram os móveis fora de casa para que não queimassem em caso de ataque”, disse um tenente, sob condição de anonimato.Após submeter a reportagem a revista e perguntas, o prefeito pró-Morales Antonio Aguilera Roca e outros líderes aceitaram falar e autorizaram fotos. Quase todos os camponeses e dirigentes estavam nos confrontos de Porvenir. Alguns deles mostraram cicatrizes de disparos. Os de Puerto Rico estavam em situação mais precária: perderam todos os pertences e, sem segurança para voltar, dormem na pequena biblioteca.Segundo Aguilera, 70 moradores do município desapareceram. Um deles é o dirigente Victor Choque. Chorando, sua mulher, Dilma Hurtado, 44, disse que não voltaria à sua casa, a sete horas de viagem, até encontrá-lo.Fonte: Folha de São Paulo

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