É comum, a cada vez que um ano está no fim, que nos perguntemos o que esperamos do novo ciclo que começa. Traçamos planos sobre o que desejamos que os novos dias nos tragam, depositando na virada do calendário nossa esperança.
Não há nada de errado com esperança. É ela que, quando já exauridos das tantas batalhas dos últimos meses, rejuvenesce e nos traz de volta o fôlego que estávamos prestes a esquecer, como no poema de Quintana:
“Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…”
No entanto, é importante, sobretudo no momento tenso pelo qual passamos, depois de um ano de aprofundamento do golpe — contra a democracia, contra o Estado democrático de direito, contra a liberdade, contra a classe trabalhadora, contra a educação — que invertamos o sujeito e objeto da pergunta. Que pensemos não exatamente no que esperamos de 2018, mas no que 2018 espera de nós.
E ele espera muita coisa.
Espera que continuemos mobilizados para derrotar a reforma da Previdência, prevista para ser colocada em votação logo em fevereiro, após o fim do recesso parlamentar.
Espera que enfrentemos a reforma trabalhista em todas as frentes, indo adiante com as ações contra as demissões em massa ocorridas no último mês de 2017 e também com a campanha de coleta de assinaturas em favor do Projeto de Lei de Iniciativa Popular que revoga a reforma.
Espera que estejamos unidos na campanha salarial de 2018, lutando para assegurar os direitos de nossas categorias.
Espera que nos empenhemos numa campanha nacional de sindicalização, mostrando aos trabalhadores e à sociedade que a valorização de quem trabalha começa por cada um e que é preciso fortalecer os sindicatos pela renovação das Convenções Coletivas de Trabalho sem retrocessos, pela continuidade das homologações nas entidades sindicais, por ganhos reais nos salários e por nenhum direito a menos.
Espera que sigamos denunciando a desprofissionalização do magistério, mantendo acesa nossa campanha “Apagar o professor é apagar o futuro” e levando-a para as ruas.
Espera que fortaleçamos ainda mais nosso combate histórico à mercantilização e à financeirização do ensino, que, além do ensino superior, se alastra agora pela educação básica. Essa é uma bandeira cara à Contee, uma luta na qual a Confederação é protagonista, e que em 2017 ganhou atenção internacional com a campanha “Educar, não lucrar”, lançada pela Internacional da Educação para a América Latina.
Espera que combatamos as tentativas de amordaçar o magistério, assegurando que uma de nossas grandes conquistas em 2017 — a liminar que suspendeu a Lei da Mordaça e Alagoas, em ação ajuizada pela Contee junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) — seja mantida e respeitada em todo o país.
Espera que realizemos, em abril, uma Conferência Nacional Popular de Educação (Conape)vitoriosa e participativa, tendo como meta garantir o aperfeiçoamento e a implementação do Plano Nacional de Educação (PNE), a implantação de um Sistema Nacional de Educação (SNE) que possibilite o fortalecimento da educação pública e a regulamentação do ensino privado.
Espera que estejamos atentos ao processo eleitoral difícil e aos novos golpes que podem ser desferidos e que precisamos combater.
A lista de batalhas é extensa e não acaba aqui. Será um ano intenso, que exigirá de nós força e galhardia. E também esperança, é claro: esperança de que, com nossa luta conjunta, podemos enfrentar os desafios e defender sempre, mesmo diante de todas as adversidades, os direitos dos trabalhadores, uma educação democrática, cidadã e inclusiva e uma sociedade mais justa, humana e fraterna.
Por Táscia Souza – Portal Contee