Notícias

Valéria Morato: Os desafios do sindicalismo classista

12 de abril de 2021

Ações para fortalecer o movimento sindical classista passam por quatro eixos integrados

O ano de 2021 será marcado por grandes debates para o movimento sindical classista. Nossa central sindical, a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), convocou para os dias 12, 13 e 14 de agosto seu 5º Congresso Nacional – que será precedido pelas etapas estaduais. Além disso, entidades classistas que têm atuação nacional e representam importantes categorias – como a Contee (trabalhadores do ensino privado) e a Fitmetal (metalúrgicos) – agendaram congressos ou plenárias para este ano.

As atividades ocorrem sob uma conjuntura desfavorável, que levou o sindicalismo brasileiro a uma fase de defensiva histórica. O golpe de 2016, além de derrubar uma presidenta legitimamente eleita, impôs uma agenda de retrocessos. Nos últimos anos, houve ataques tanto à classe trabalhadora (contrarreformas, precarização, uberização, desemprego e fim da proteção social) quanto às organizações sindicais (estrangulamento financeiro, perda de associados e enfraquecimento do poder negocial).

Esse quadro foi agravado ainda mais em 2019, com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, e em 2020, com o início da pandemia de Covid-19 no Brasil. Mais uma vez, os trabalhadores – em especial as mulheres, os negros e os jovens – foram os mais penalizados com a conta da crise econômica, social e sanitária.

A ofensiva conservadora não dizimou as entidades sindicais. Ainda assim, a realidade exige que cada liderança reveja a forma como seu sindicato atua, sua abrangência, sua relação com as bases, sua capacidade de representação, seus objetivos. Cabe a todos nós debater saídas para conquistar (e reconquistar) filiados, dialogar com públicos diversificados, reorganizar a atuação, buscar novas formas de financiamento e potencializar nossa ação política e organizativa.

Uma das missões centrais do sindicalismo classista é construir ações integradas que reconfigurem a comunicação com a categoria e a sociedade, além de revitalizarem a própria ação sindical. Precisamos de diálogo para estabelecer e fortalecer vínculos e ligações, formar redes, identificar, explicitar e compreender os pressupostos que dificultam a percepção das relações. E precisamos de transversalidade para abrigar novas pautas na agenda sindical, despertar o interesse dos trabalhadores e dialogar com setores que estão à margem das organizações sindicais.

É assim que poderemos criar as condições necessárias para mobilizações e debates sobre a conjuntura política atual, os desafios do sindicalismo classista, do campo popular, democrático e progressista, bem como seus desdobramentos eleitorais em 2022. É tempo de mobilizar e engajar as categorias, politizar o debate, valorizar a ação política dos sindicatos, fortalecer a reputação (a credibilidade histórica) do movimento sindical, obter ganhos políticos e organizativos no curto, médio e longo prazos.

A nosso ver, as ações para fortalecer o movimento sindical classista passam por quatro eixos integrados: a) Inteligência; b) Formação; c) Campanhas e Eventos; e d) Parcerias e captação de recursos. Em cada um desses eixos, listamos iniciativas para fortalecer os sindicatos e deixar as condições de luta mais favoráveis aos trabalhadores:

Inteligência
– Realizar pesquisas de diagnóstico (destrinchar o perfil e as expectativas pessoais e coletivas dos trabalhadores);
– Construir estratégias de abordagens segmentadas (faixa etária, regiões prioritárias, interesses específicos, etc.);
– Estruturar e alimentar o “big data” do seu sindicato, com base nos dados disponíveis e em novas informações;
– Aprofundar a integração de canais de relacionamento das entidades: site, FacebookYouTubeInstagram; call center, mala-direta, atendimento no guichê, rescisão, etc.

Formação
– Produção de conteúdos políticos e pedagógicos em diversas mídias, de forma remota e, quando possível, presencial;
– Estruturação de cursos e séries dirigidas aos públicos-alvo (parceria com universidades, institutos de formação, poderes públicos e outros parceiros);
– Promover ciclos de palestras, debates e seminários (online e, quando possível, presenciais) sobre temas diversos da contemporaneidade de interesse dos trabalhadores, com especialistas e outras figuras públicas.

Campanhas e eventos
– Planejar e executar campanhas comemorativas alusivas aos aniversários das entidades;
– Planejar e executar campanhas de filiação;
– Planejar e executar eventos culturais;
– Criar calendário anual de eventos;
– Dar ampla visibilidade às campanhas salariais e aos dissídios coletivos.

Parcerias e captação de recursos
– Criar núcleo de captação de recursos para eventos, publicações e campanhas;
– Ampliar parcerias institucionais do sindicato com entidades do 3º setor, universidades, institutos e centros de pesquisa e formação;
– Ampliar política de convênios e divulgar mais os convênios já existentes.

É claro que essas ações não são suficientes para vencermos os problemas políticos e econômicos que impactam o movimento sindical. Medidas mais complexas, de médio e longo prazo – como o fim da reforma trabalhista, a eleição de mais parlamentares sindicalistas e a derrubada do governo Bolsonaro –, devem estar sempre entre as prioridades das entidades classistas.

Mas as propostas que listamos aqui podem, sim, mudar a correlação de forças e ajudar os sindicatos a cumprirem, uma vez mais, sua missão. São caminhos e ferramentas – ações concretas – para que o sindicalismo saia da defensiva e volte à linha de frente das batalhas em defesa dos trabalhadores, da democracia e do Brasil.

  • Valéria Morato é presidenta da CTB Minas e do Sinpro Minas

Fonte: Portal CTB

COMENTÁRIO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

Artigo
Ciência
COVID-19
Cultura
Direitos
Educação
Entrevista
Eventos
Geral
Mundo
Opinião
Política
Programa Extra-Classe
Publicações
Rádio Sinpro Minas
Saúde
Sinpro em Movimento
Trabalho

Regionais

Barbacena
Betim
Cataguases
Coronel Fabriciano
Divinópolis
Governador Valadares
Montes Claros
Paracatu
Patos de Minas
Poços de Caldas
Pouso Alegre
Sete Lagoas
Uberaba
Uberlândia
Varginha