De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), neste ano, o voto feminino teve o maior peso da história: 52% dos 142 milhões de eleitores brasileiros são mulheres. Nos últimos anos, tem crescido também o número de candidatas. Nas últimas eleições, o Brasil teve três postulantes à Presidência da República, 20 a governos estaduais, 33 ao Senado, quase 1.800 à Câmara e 4.300 candidatas às Assembleias Legislativas. A proporção de candidatas aptas a disputar algum cargo, incluindo vices e suplentes, aumentou de 20,2% do total de candidatos em 2010 para 28,7% em 2014. Apesar de ter crescido o número de eleitoras e de candidatas, e ainda que o cargo mais importante do país seja ocupado por uma mulher, elas ainda são minoria em termos de representação política.
Nesta eleição, segundo informações do TSE, o número de deputadas estaduais e distritais diminuiu 14,89% – foram eleitas 120 mulheres, contra 141 atualmente nas 26 assembleias estaduais e na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ou seja, a representação popular nos estados continua predominantemente masculina, já que apenas 11,33% dos deputados estaduais e distritais são mulheres. A bancada feminina cresceu apenas no Ceará, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Em 17 estados, houve diminuição no número de candidatas eleitas.
Na Câmara dos Deputados houve um pequeno aumento do número de mulheres. Entretanto, ainda é uma sub-representação. Para o mandato que se inicia em 2015 foram eleitas 51 deputadas (atualmente são 45) – o que significa uma mulher para cada dez deputados eleitos, pois são 513 cadeiras. Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral, dos 4.382 homens candidatos ao legislativo, cerca de 10% foram eleitos. Em contrapartida, das 1.796 mulheres que buscaram um cargo na Câmara, apenas 2,8% conquistaram um lugar na bancada. Os estados de Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba e Sergipe não tiveram nenhuma mulher eleita deputada federal. Minas Gerais foi o estado em que as mulheres tiveram menos destaque. A primeira mulher na lista de contagem de votos aparece apenas na trigésima quinta posição.
No Senado, foram eleitas apenas cinco mulheres para as 27 vagas disponíveis, o que representa apenas 18,5% do total dos senadores eleitos e 13% da Casa, já que outras seis senadoras cumprem mandato até 2019 (renovação de um terço apenas).
E, o pior, para governo de estado, apenas uma mulher foi eleita – Suely Campos (PP), em Roraima. Historicamente, o número de governadoras nunca passou de 11%. A representatividade feminina nos governos estaduais não é tão pequena desde 1998, quando foi eleita apenas uma mulher governadora. Em 2002, foram duas, em 2006, três governadoras e, em 2010, apenas duas novamente.
Cultura machista
Mas se a mulher representa mais de 50% da população e do eleitorado, responde por mais de 45% da produção deste país e pelo sustento de 1/3 das famílias, por que esse protagonismo não reflete na nossa representação política? Para Vera Soares, Subsecretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas da Secretaria de Políticas para as Mulheres, a razão disso está na cultura brasileira que ainda é machista e discriminatória. “Esta cultura patriarcal que isola as mulheres do mundo da política está refletida nos partidos políticos que, por sua vez, não têm a mínima preocupação em mudar esta realidade. Não incentivam as mulheres a participar, não compartilham estes espaços e não se incomodam com a pequena representação feminina nos poderes, pois já está naturalizada a exclusão da mulher também no mundo da política. Um contrassenso, pois ela tem papel fundamental na economia e inclusive nos movimentos sociais, dando enorme contribuição para a transformação deste país”, avalia.
Por outro lado, se a mulher é maioria do eleitorado porque ela não tem ajudado a eleger mais mulheres? Para Vera Soares, não tem como votar em mulheres se elas aparecem pouco, exatamente porque os partidos não abrem oportunidades iguais às oferecidas aos homens. “Os partidos divulgam os candidatos que querem eleger e na maioria das vezes, aceitam as candidaturas femininas por exigência da lei, apenas para cumprir cotas. Assim, elas não têm visibilidade e enfrentam muito mais dificuldades como, por exemplo, obter recursos para financiar suas campanhas”. A subsecretária acredita que um dos caminhos pode ser a reforma política com enfoque de igualdade entre homens e mulheres. “Várias propostas estão surgindo dos partidos, dos movimentos sociais, etc, que visam repensar a atual forma de financiamento de campanhas e outros temas importantes”, afirma ao ressaltar também a importância do papel da escola e do professor neste processo.
“A escola, nas suas práticas educativas, precisa estar atenta para não reforçar estereótipos machistas, pois isso contribui para o fortalecimento da política patriarcal. Desde a educação infantil, os professores precisam cuidar para não reforçar que meninas usam rosa, são mais sensíveis; que meninos usam azul, não choram, etc. Ou no ensino médio, ajudar as meninas a perceber que não precisam, necessariamente, escolher apenas profissões que têm a ver com cuidado e/ou educação como enfermeiras, assistente social, professoras e que podem ocupar espaços, historicamente masculinos, como engenharias, física, matemática, etc. Com certeza, a escola não é determinante, mas pode reforçar estereótipos. É preciso que crie um ambiente de cultura, de respeito às diferenças, que valorize a diversidade, uma cultura igualitária. Com certeza, isso vai contribuir diretamente para a igualdade de gênero”, finaliza.
Voto feminino: um direito conquistado
A primeira vez que uma mulher pode votar no Brasil foi há apenas 86 anos, em 1927, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, quando a professora Celina Guimarães Viana conseguiu seu registro. No restante do país, esse direito só foi reconhecido em 1932 e concretizado no ano seguinte, na eleição para a Assembleia Constituinte. Porém, em função dos governos Vargas (1937 a 1945) e da ditadura militar (1964 a 1985), a mulher pouco exerceu este direito.
Um caminho nada fácil, com muitas lutas travadas pelo movimento feminista, tanto para ser eleitora como candidata a algum cargo político. A primeira prefeita foi eleita em 1928. Alzira Soriano de Souza, na cidade de Lages, também no Rio Grande do Norte, tinha 32 anos. Ela perdeu o mandato por não concordar com o governo Vargas. Já a primeira deputada federal foi a médica Carlota Pereira de Queiroz, eleita pelo estado de São Paulo, em 1934. No Senado, as primeiras parlamentares foram Júnia Marise (Minas Gerais) e Marluce Pinto (Roraima), em 1990. Já governadora, a primeira foi Roseana Sarney, no Maranhão, em 1994. E só em 2011, o Brasil elegeu sua primeira presidenta, Dilma Rousseff, quando também foram eleitas as primeiras vice-presidentas da Câmara dos Deputados (Rose de Freitas, do Espírito Santo) e do Senado (Marta Suplicy, de São Paulo).
Por Nanci Alves
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