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Pretos e pardos são minoria em escolas privadas com alto desempenho no Enem

30 de março de 2021

Pesquisador alerta para o nível de disparidade racial em instituições particulares; índices se comparam aos EUA com leis segregadoras

Pretos e pardos são baixíssima minoria nas 20 escolas privadas brasileiras com os melhores resultados no Exame Nacional do Ensino Médio de 2019, segundo aponta estudo divulgado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro na segunda-feira 29. Em mais da metade das escolas, não chegam a compor 10%; em outras sete, ultrapassam esse percentual, mas não alcançam a metade.

Os dados foram obtidos a partir do Censo Escolar de 2020. Parte das escolas não computam a raça e a cor de todos os seus alunos, mas os dados das que responderam “assustam pela altíssima segregação racial desses espaços”, dizem o estudo Desigualdade racial nas escolas privadas de alto desempenho.

Das 20 escolas citadas na pesquisa, apenas uma não apresenta dados sobre raça: o Instituto Dom Barreto, no Piauí, registrou 100% de alunos não declarados. Na sequência, o Colégio Pirâmide, em São Paulo, computou 85% de não declarados e 15% de alunos declarados como brancos.

Em seguida, o Colégio de Aplicação Farias Brito, no Ceará, apresenta 65% de não declarados; 20% de brancos; e 15% de pretos e pardos. A quarta escola com menos de 50% de não declarados é o Colégio Ari de Sá Cavalcante – Sede Mário Mamede (58% de não declarados); 22% são registrados como brancos e 20% como pretos e pardos.

Nas outras 16 escolas há mais de 50% de alunos com raça e cor declaradas.

Três superam 90% de brancos: as escolas Orlando Garcia da Silveira, em São Paulo; Lageado Bonito, no Paraná; e Ana de Melo Azevedo, em Minas Gerais:

92% de brancos foram registrados na Escola Lageado Bonito, no Paraná; 8% de pretos e pardos e 0% de não declarados.
91% de brancos no Colégio Orlando Garcia da Silveira, em São Paulo; 7% de pretos e pardos; e 2% de não declarados.
90% de brancos na Escola Ana de Melo Azevedo, em Minas Gerais; 10% de pretos e pardos e 0% de não declarados.

Cinco escolas citadas superam 70% de brancos.

81% de brancos no Colégio Catamarã Referência, em São Paulo; 0% de pretos e pardos e 19% de não declarados.
80% de brancos na Associação de Ensino de Boituva, em São Paulo; 4% de pretos e pardos e 15% de não declarados.
75% de brancos no Instituto Ellos de Educação, em Minas Gerais; 4% de pretos e pardos e 21% de não declarados.
71% de brancos no Colégio Parque Sevilha, em São Paulo; 13% de pretos e pardos e 16% de não declarados.
70% de brancos no Colégio Vértice Unidade II, em São Paulo; 1% de pretos e pardos e 29% de não declarados.

Outras cinco escolas registram entre 50% e 70% de brancos.

67% de brancos no Colégio Objetivo, em São Paulo; 7% de pretos e pardos e 27% de não declarados.
61% de brancos no Colégio Bernoulli (Unidade Gonçalves Dias), em Minas Gerais; 10% de pretos e pardos e 30% de não declarados.
58% de brancos no Colégio Educacional de Matipó, em Minas Gerais; 42% de pretos e pardos e 0% de não declarados.
55% de brancos no Colégio Santo Antônio, em Minas Gerais; 8% de pretos e pardos e 37% de não declarados.
55% de brancos no Colégio São Bento, no Rio de Janeiro; 3% de pretos e pardos e 43% de não declarados.

Três colégios com mais de 50% de alunos declarados apresentaram entre 30% e 40% de alunos brancos.

49% de brancos no Colégio Fibonacci, em Minas Gerais; 8% de pretos e pardos e 43% de não declarados.
48% de brancos no Colégio Bernoulli, em Minas Gerais; 6% de pretos e pardos e 46% de não declarados.
34% de brancos no Colégio Ari de Sá Cavalcante (Sede Major Facundo), no Ceará; 29% de pretos e pardos e 36% de não declarados.

O nível de segregação se repete em duas grandes capitais brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo, aponta o estudo. No Rio de Janeiro, entre as 10 escolas particulares de maior desempenho no Enem 2019, apenas uma apresenta mais de 20% de pretos e pardos: o Colégio Técnico Nossa Senhora das Graças (30%). Em São Paulo, nenhum dos dez colégios nessa categoria registrou mais de 20% de pretos ou pardos. A maioria oscilou entre 1% e 7%.

A ausência de pretos e partos nas escolas privadas mostra que as diferenças de classes e de raça são gritantes na educação brasileira e alerta para a urgência de políticas afirmativas, diz o sociólogo Luiz Augusto Campos, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a CartaCapital. O pesquisador destaca a necessidade de assegurar mais registros de racialidade nas escolas, devido à baixa computação de dados sobre o tema em algumas instituições.

“As escolas do Brasil são comparáveis a escolas dos Estados Unidos com leis segregadoras. Tem escolas totalmente brancas”, afirma o professor. “O primeiro passo é tornar a variável de raça e cor em um preenchimento obrigatório, para sabermos a realidade em sua totalidade. O segundo passo é discutir ações relativas a cotas mínimas.”

Fonte: Carta Capital Reportagem de Victor Ohana

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