O jornalista Altamiro Borges e o professor da Unicamp José Dari Krein encerraram, nesse domingo (1º/6), com o debate “O novo contexto sindical brasileiro e a organização docente”, o 10º Congresso do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (Consinpro), no auditório da Faculdade de Direito, em Belo Horizonte. Durante três dias, 310 professores de todo o estado, parlamentares, autoridades e especialistas de diversas áreas debateram, em palestras e oficinas, temas importantes do atual cenário educacional brasileiro.
“A categoria respondeu de forma plena à convocação para o evento, que superou a nossa expectativa. Atingimos o objetivo do congresso, que foi discutir políticas de valorização dos professores, por meio da articulação de três eixos: a política, o trabalho e a educação. Os professores das diversas regiões do estado vão multiplicar as discussões e o aprendizado que tivermos aqui”, argumentou o presidente do Sinpro Minas, Gilson Reis.
Gilson Reis, durante a abertura do 10º Consinpro, em Belo Horizonte |
O evento começou na sexta-feira (30/5), às 20 horas. Após a apresentação dos músicos da Associação dos Músicos da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (AMOS), a doutora em Educação e professora do Centro Universitário UNA Lucília Machado ministrou a conferência “Mundo do Trabalho em Transformação e os Desafios da Profissão Docente”. Lucília fez uma exposição teórica sobre o trabalho e os impactos do capitalismo globalizado na profissão docente.
Segundo ela, o atual estágio de desenvolvimento do mercado tem gerado instabilidade da atividade econômica, vulnerabilidade dos vínculos empregatícios, precariedade dos contratos de trabalho e dos empregos e mudanças nas formas de organização e gestão da produção e do trabalho, nas relações profissionais e nos critérios de produtividade e qualidade. “O perfil do docente nesse quadro de mudanças, instabilidades e precariedades é menos sindical e mais profissional, mais técnico e menos político, mais negociador e menos do conflito”, argumentou Lucília.
De acordo com ela, no atual cenário, em que prevalece a lógica mercantil na educação, a profissão docente sofre maior controle e pressão, além de uma intensificação do trabalho. “Estamos vivendo alguns riscos de desprofissionalização, que passa pela precarização das condições de trabalho e pela marginalização do sentido intelectual da profissão docente. Cada vez se torna mais difícil a possibilidade de aprender no serviço, com os colegas, desenvolvendo uma vida produtiva e agradável. Você tem que correr de uma escola para outra, há uma intensificação do trabalho que dificulta a criação de redes de aprendizado”, apontou. Segundo Lucília, a realidade é contraditória e, ao mesmo tempo em que apresenta fenômenos de desvalorização, tem oportunidades do ponto de vista de afirmação da identidade, que precisam ser valorizadas. “Mesmo com toda a pressão, o professor continua tendo o papel principal na organização do processo de ensino-aprendizagem. Ele deve assumir bem o que sabe fazer. Como existe uma expectativa de se mudar a escola para melhor, o momento seria propício para revalorizar o papel político e social dos professores”, afirmou a professora. “Temos que agarrar o desafio, não como algo penoso, difícil, mas no sentido de que nos incita à luta. A primeira coisa a fazer é resgatar a construção da imagem que fazemos de nós mesmos, essa questão da dignidade, da postura, do profissionalismo, da combatividade, do orgulho de ser professor”, explicou Lucília. Agenda social e democrática x agenda neoliberal
No debate do sábado de manhã, cujo tema foi “Desenvolvimento Nacional e Valorização do Trabalho”, o cientista político e professor da UFMG Otávio Dulci falou sobre o embate entre duas agendas políticas na atualidade, a agenda neoliberal e a democrática e social. “Hoje, vivemos um esforço de fazer avançar a agenda social sob o constrangimento da agenda liberal, em busca de um ponto médio em relação ao papel do Estado”, destacou. Segundo ele, isso está acontecendo em um momento de refluxo mundial da onda neoliberal, que trouxe redução da renda e dos direitos dos trabalhadores, privatizações e fragmentação da organização sindical.
Mesa discutiu o desenvolvimento nacional e a valorização do trabalho |
Otávio Dulci disse ainda que o ponto de rompimento com o modelo liberal foi o ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, em Nova York. “O atentado produziu uma forte tensão no centro do poder econômico mundial, representado um abalo simbólico tremendo ao projeto neoliberal”. Para ele, o Consenso de Washington não reduziu as desigualdades sociais como se propagava.
A deputada federal Jô Moraes destacou que essas agendas também estão em disputa no Congresso Nacional. “Há uma grande dificuldade de incorporar a agenda do trabalho à agenda política nacional. Precisamos discutir e pressionar para que as reformas sociais aconteçam”, disse Jô. Para ela, é urgente que se discuta no Brasil as reformas urbana, agrária, da educação, dos meios de comunicação, tributária e política. “A iniciativa do Sinpro de convidar os professores para discutir essas e outras idéias e projetos é uma forma de criar consciência crítica e coalisão social. Somente nessa inquietação teimosa é que a gente pode ter alguma perspectiva de melhoria para o nosso país”, observou Jô.
No sábado à tarde, os professores participaram ativamente, com questionamentos e intervenções, das sete oficinas ministradas no encontro: Inovações Tecnológicas e Reconfiguração da Profissão Docente; Profissão Docente e Formação Continuada; Políticas Educacionais, Currículo e Trabalho Pedagógico – Prescrições e Prática Negociada; Professor da Educação Infantil: formação e identidade; Gestão Democrática da Educação e Profissão Docente; Diversidade Cultural e os Desafios do Trabalho Docente e Legislação Trabalhista e Profissão Docente (clique para ler os textos das oficinas).
Sindicalismo e organização docente
No último painel, no domingo, Altamiro Borges foi enfático em demonstrar que há sinais de mudanças que tornam o momento mais favorável para o movimento sindical deixar a postura de resistência e passar para a de ofensiva. Ele fez uma análise do cenário político-econômico nacional e internacional, destacando a resistência dos povos latino-americanos contra o imperialismo norte-americano. “Não temos noção das transformações que estão ocorrendo na América Latina”, afirmou.
O economista José Dari Krein começou sua intervenção lembrando Marx: “nós fazemos a história a parir da situação concreta em cada momento”, citou. Ele fez críticas ao discurso de cooperação nas empresas, que acaba intensificando a concorrência entre os trabalhadores, e defendeu a redução da jornada como uma questão ligada à saúde. “Há um tensionamento permanente nas relações de trabalho que levam ao estresse e a problemas de saúde. Tudo isso é agravado pela invasão do trabalho no tempo da vida, principalmente com a internet e o celular”, exemplifica.
Dari questionou a lógica da exacerbação do individualismo e do consumo na sociedade moderna e disse que a solução não está só em incentivar a qualificação e a competição entre os trabalhadores. “Hoje, vivemos para trabalhar e isso está relacionado ao consumismo”. Sobre a desvalorização do trabalho docente, ele citou dados de uma pesquisa da Unicamp, na qual 80% dos profissionais da educação no país recebem de R$ 500,00 a R$ 1.200,00, sendo enquadrados nos critérios que os classificam como pertencentes à baixa classe média.
Altamiro Borges defendeu a redução da jornada de trabalho |
Na plenária final, o presidente do Sinpro Minas, Gilson Reis, apresentou as bandeiras que vão direcionar a Campanha Salarial 2009/10 dos professores da rede privada e uma campanha permanente de valorização da categoria. Assim como o Consinpro, a campanha se apoiará nos três eixos discutidos – Trabalho, Política e Educação – e vai reivindicar, entre outras coisas, a regulamentação do ensino privado e da Educação a Distância e a contratação por jornada de trabalho.
Entidade filiada ao
O Sinpro Minas mantém um plantão de diretores/funcionários para prestar esclarecimentos ao professores sobre os seus direitos, orientá-los e receber denúncias de más condições de trabalho e de descumprimento da legislação trabalhista ou de Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
O plantāo funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
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