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A matemática esperta da ‘Folha’

4 de fevereiro de 2013

Manchete da Folha deste domingo estampa ‘grave denúncia’:

“Programa social consome a metade dos gastos federais”.

Só profissionais da dissimulação conseguem vender como jornalismo manipulações grosseiras como essa feitas para alimentar o alarido da agenda conservadora.

A saber:

a) que a política econômica do governo do PT não passa de uma bolha de consumo atrelada a enorme ‘bolsa esmola’;

b)que o consumo de massa é mantido de forma artificial, com gastos assistencialistas –e reajuste abusivo do salário mínimo, a pressionar o sistema previdenciário;

c) que tudo isso é inflacionário porque desprovido da expansão dos demais ingredientes que sustentam a oferta (como se o hiato do investimento fosse um fato cristalizado);

d) que o conjunto subtrai recursos ao sagrado superávit primário, impedindo o Estado de canalizar maiores fatias aos rentistas da dívida pública;

e) que a solução é restaurar a agenda do Estado mínimo, com política salarial que desguarneça o núcleo desequilibrador da pirâmide de renda: o ganho real de 60% do salário mínimo no governo Lula.

Em resumo: PSDB na cabeça em 2014.

Dois disparos à queima-roupa denunciam a pistolagem atirando deliberadamente contra os fatos no alerta domingueiro da FolhaA ‘grave denúncia’ apoia-se, de um lado, num truque contábil.

Ele pode ser pinçado de dentro de uma única e miserável linha do texto: ‘Foram excluídos da conta os encargos da dívida pública’.

Média do que custou o pagamento dos juros da dívida pública nos últimos anos.

Só os juros.

Despesas com amortizações e rolagens, que elevam o fardo rentista a quase 50% do gasto orçamentário federal, engessando-o para investimentos em saúde, educação etc, não estão computadas aqui.

São ‘pequenas’ elipses.

Mas são elas que tornam possível entregar o percentual encomendado pela manchete domingueira: ”programa social consome a metade dos gastos federais’.

O segundo desvão da calculadora dos Frias engole aspectos cruciais da previdência social urbana.

No texto, ela é a ante-sala do inferno fiscal: equivale a 60% dos tais ‘gastos sociais’ do Estado brasileiro.

Um buraco de R$ 245,5 bi.

Aos fatos.

A previdência urbana é superavitária desde 2007, graças à criação de 16 milhões de empregos com registro em carteira nos governos Lula e Dilma. Em 2012, teve o melhor resultado de sua história: um superávit de R$ 25 bi.

O saldo cobre quase 35% do déficit da previdência rural, que estendeu o salário mínimo aos idosos do campo com os seguintes desdobramentos:

a) a renda rural nos últimos seis anos cresceu 36% a mais do que o próprio PIB;

b) a previdência rural –que a agenda ortodoxa quer extinguir ou desvincular dos ganhos do mínimo– tornou-se um dos principais fatores de dinamização dos municípios no interior do país;

c) a década do governo Lula foi a primeira, em 60 anos, em que o êxodo rural no Brasil se estabilizou.

É uma pequena reviravolta na história. Deveria ser aprofundada, melhor debatida, retificada em suas lacunas, pesquisada e fortalecida em seus desdobramentos virtuosos.

Mas quem o fará?

Por certo, não a matemática esperta da Folha que, por precaução eleitoral, cuida também de desqualificar os desdobramentos efetivos da ‘gastança social’ que condena.

A mensagem do conjunto reflete a mentalidade regressiva de um conservadorismo incapaz de se renovar, exceto recorrendo a truques grotescos para repetir a bandeira desautorizada pela crise mundial: devolvam o país aos mercados; eles sabem como fazer a coisa certa.

Fonte: Saul Leblon, da Agência Carta Maior

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