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Artigo: Escolas são empresas?

24 de agosto de 2010

A sociedade brasileira vem sofrendo um ataque de proporções crescentes e consequências incontroláveis, configurado pela transformação das instituições privadas de educação em empresas que consideram que a formação humana pode ser uma atividade mercantil, subordinada à lógica do lucro, e pela privatização indireta das escolas públicas, submetidas à gestão e controle pedagógico por empresas privadas.

Na Educação Superior, assim como no setor financeiro e industrial, a “crise” é resolvida por meio de concentração de poder em mãos de grandes grupos, alguns deles estrangeiros, que, adquirindo pequenas e médias instituições, fundindo outras, transformam-se em redes imensas de “prestação de serviço educacional” massificado, à moda das redes de fast-food, desconsiderando as especificidades da atividade educativa.

Muitos destes grupos “abrem o capital”, lançando ações no mercado financeiro, explicitando que sua concepção de “negócio” não considera outra realidade que não seja a da mercantilização de todas as esferas da vida humana. As instituições educacionais vão passando de mão em mão, entre grupos de investimento especuladores que controlam tanto escolas, como indústrias de bebidas, cigarros, farmacêuticas etc.

O jogo especulativo do mercado subordina a produção acadêmica e a formação das novas gerações aos interesses do mercado. Demissões de professores, especialmente os mais experientes e titulados, redução de carga horária em prejuízo da qualidade do ensino e da aprendizagem, adoção de tecnologias de ensino massificado em detrimento da necessária personalização das relações pedagógicas são as bases da reestruturação.

Os novos modelos acadêmicos são apresentados aos acionistas e sua justificativa se fundamenta unicamente no corte de custos e consequente valorização das ações. Redução da folha de pagamento em valores da ordem de 40 milhões de reais é anunciada para os próximos anos, em uma única instituição, significando a mutilação da massa crítica e da capacidade de produção científica acumulada durante décadas.

Modificações na gestão são anunciadas nos suplementos de Economia dos jornais, como “fatos relevantes” ao mercado financeiro, e não à comunidade acadêmica ou aos sindicatos de professores. A função da pesquisa na universidade com vistas ao desenvolvimento científico e tecnológico do país e da promoção do pensamento crítico e da justiça social é descaracterizada, quando não inexistente, num flagrante desrespeito à legislação.

Se considerarmos que 90% das instituições de Educação Superior no Brasil são privadas e concentram 75% das matriculas, podemos dimensionar a gravidade deste ataque à dignidade do trabalho docente e à qualidade da formação humana. A atividade de extensão, quando existe, perde seu caráter de compromisso social e é reduzida à formação de capital de marca. Que profissionais serão formados num quadro tão perverso? Que consequências sofreremos?

Na Educação Básica, o mesmo processo se inicia a passos ligeiros. Consolidação em torno de grandes grupos econômicos que estendem seus tentáculos também sobre a escola pública, por meio do controle e desqualificação do trabalho pedagógico.

Em lugar de projetos pedagógicos baseados nas características do aluno, da comunidade e do contexto e na capacidade profissional do professores, são impostos materiais didáticos padronizados para todas as regiões do país, mutilando a possibilidade de uma pedagogia comprometida com a formação de um cidadão consciente e crítico e adequada às reais necessidades e ritmos de aprendizagem específicos. A produção de material didático padronizado por grandes grupos editoriais subordinada às leis do mercado sequestra qualquer possibilidade de uma escola criativa e de qualidade.

A sociedade não se manterá passiva diante de ameaça de tamanha gravidade.

Por Aparecida Tiradentes, Assessora Educacional da ConteeFonte: Contee

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