Os brasileiros com rendas mais elevadas, integrantes da classe A e B, foram os que sofreram de forma mais intensa os efeitos do agravamento da crise financeira internacional, a partir de setembro do ano passado. No mês de janeiro deste ano, no entanto, as perdas foram ainda maiores para essa parcela da população, que compreende aqueles com renda domiciliar superior a R$ 4.807 mensais, e se ampliaram para faixas de rendimento inferiores, como a classe C (com renda entre R$ 1.115 e R$ 4.807).
De acordo com um estudo divulgado hoje (8) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), as classes A e B que acumulavam, nos últimos cinco anos até o período pré-crise, um aumento de 35% de participação na população brasileira, registraram queda de 2,74% somente em janeiro. Já a classe C, que havia aumentado sua participação em 25% desde 2004, no mesmo mês registrou uma perda de 2,17%.
Por outro lado, as classes mais pobres, que vinham perdendo integrantes, o que na maioria dos casos representava processos de ascensão social, sofreram movimento inverso. A classe D, que inclui brasileiros com renda entre R$ 804 e R$ 1.115, acumulava perda de 15,9% nos últimos cinco anos até a crise e somente em janeiro recuperou 3,03%. A classe E, a mais baixa da pirâmide, com renda de até R$ 804, acumulava perda de 40,3% desde 2004, e no primeiro mês deste ano subiu 6,73%.
De acordo com o economista da FGV Marcelo Neri, responsável pelo estudo, um quadro de melhorias sociais conquistadas nos últimos anos começou a ser revertido, principalmente a partir de janeiro.
“A imagem das mudanças na sociedade brasileira depois da crise é como um espelho que reflete o inverso do que vinha acontecendo antes da crise. Quem ganhava perde e vice-versa. A partir, principalmente de janeiro, houve uma mudança súbita de trajetória dos indicadores sociais no país”, explicou.
Neri também destacou que a crise, considerada “atípica”, já que atinge de forma mais intensa a parcela da população com maior renda, também traz prejuízos para os mais pobres. Segundo ele, o processo de redução das desigualdades sociais no país, observado nos últimos sete anos, ficou estável em janeiro.
Ainda de acordo com o levantamento da FGV, as áreas da economia mais atingidas foram aquelas ligadas à indústria e ao setor financeiro. “Eles são os canais naturais de transmissão da crise e a partir de janeiro foram mais fortemente atingidos”, afirmou.
Apesar do cenário “crítico”, o economista da FGV se diz otimista em relação aos instrumentos que o país tem para combater esses efeitos.
Segundo Neri, é preciso impulsionar o mercado interno para “fazer girar a roda da economia”. Ele citou a redução da carga tributária e da taxa de juros praticada no Brasil, a ampliação temporária dos valores repassados à população por meio de políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e a implementação de projetos ligados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como medidas capazes de reverter as conseqüências da crise.
“O Brasil tem um verdadeiro ataque para lidar com tudo isso, mas é preciso usar bem os instrumentos e com a velocidade necessária”, destacou ele, que acredita que o Brasil vai demorar “certo tempo” para recuperar as perdas aprofundadas em janeiro.Fonte: Agência Brasil
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