A crise política na Bolívia reflete a divisão histórica e cultural do país. Os personagens dos protestos são tão diferentes quanto a distância econômica que os separa. A maioria esmagadora das pessoas – cerca de 72% da população – é formada por etnias indígenas que vivem em uma pobreza secular. Habitam principalmente a região Andina, trabalham em pequenas propriedades ou são mão-de-obra nas grandes propriedades. Com o passar do tempo e a falta de oportunidade nos Andes, eles acabaram migrando para as regiões mais baixas e planas, de terras férteis, pertencentes à população branca, de origem européia.
É o caso de Roberto Telles, 61 anos, que veio de Chucre há três anos e trabalha em uma indústria beneficiadora de arroz na cidade de Yapacani, no departamento de Santa Cruz de la Sierra. Em meio a cerca de 200 índios, ele fazia parte, nesse domingo (14), da primeira linha de bloqueio dos movimentos sociais na rodovia Santa Cruz-Cochabamba, uma das duas vias de acesso à capital La Paz. Na cabeceira da ponte sobre o Rio Yapacani, os índios armados de porretes colocaram toras de madeira para impedir a passagem de veículos e pessoas.
“Agora chegou a nossa hora. É a chance de finalmente termos um pedaço de terra”, disse Telles, que em seguida aderiu a uma passeata que logo depois se transformaria em um comício a favor de Evo Morales e contra os oposicionistas que defendem a autonomia dos departamentos ricos em relação à La Paz.
Do outro lado da ponte, em uma das barreiras montadas pelos oposicionistas, que depois foram desmobilizadas no domingo à noite, estava o fazendeiro Erno Martinez, 70 anos. “É uma mentira internacional que os cinco departamentos autônomos querem tomar o governo. Não é verdade. Queremos que ele [Evo] siga governando até que termine o seu mandato. Porque sabemos que uma nova eleição ele não ganhará nunca mais”, declarou.
Segundo o fazendeiro, o governo boliviano tem ligações com comunistas e até com o tráfico de drogas. “Eu não sei onde vai parar a gente de bem e decente, com este governo”, afirmou Martinez.
Ao lado dele, o presidente do Conselho Cívico de Porta Chuela, Jorge Mendes, também garantia que o objetivo dos autonomistas jamais foi o de derrubar o presidente da República. “Ao contrário. Ele teve uma votação boa e nós só queremos que nos respeite e deixe trabalhar. Lamentavelmente, o nosso governo é muito mentiroso. Mente o tempo todo”, acusou Mendes. De acordo com ele, o objetivo dos protestos, que chegaram a interromper parte do gás enviado ao mercado brasileiro, nunca foi o de prejudicar o Brasil. “Esperamos que, por intermédio de Lula, abra-se um diálogo sincero por parte do governo e que cheguemos a um bom acordo”, disse.
No meio do conflito, ficaram retido na estrada centenas de caminhoneiros, alguns há mais de dez dias, como Freddy Mercado, que havia saído de La Paz com uma carga de papel de imprensa para Santa Cruz. “Tem sido muito difícil estar nesses bloqueios, mas pelo menos não falta gente solidária, que nos dá comida”, disse Mercado. “Todo mundo perde, os motoristas, os comerciantes e também os empresários. Aqui na Bolívia sempre se solucionam as coisas com bloqueios”, completou.
Enquanto as barreiras representam prejuízo para muitos, outros conseguem lucrar com a interrupção de trechos da estrada. Para o motorista de táxi Basílio Mérida, levar passageiros entre um bloqueio e outro, em uma espécie de baldeação, era uma oportunidade para ganhar um dinheiro extra.
Descendente de índios, para ele os bloqueios são uma forma justa de protestar. “O motivo dos companheiros estarem bloqueando a estrada é em protesto pelo que ocorreu no departamento de Pando [onde cerca de 30 camponeses foram mortos por milícias locais, segundo o governo federal]”, disse. Segundo Mérida, os descendentes de índios são vítimas de preconceito e racismo por parte dos demais habitantes de Santa Cruz. “É racismo e ódio, pelo fato de o nosso presidente ser índio. As pessoas brancas nos olham diferentes. Aqui deveriam ser todos iguais, negros e brancos, e não deveria haver este ódio.” Fonte: Agência Brasil
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