Notícias

CTB se destaca no Encontro de Solidariedade à Bolívia

29 de outubro de 2008

O Brasil foi representado pela CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Coube ao presidente do Sinpro Minas e também dirigente da CTB, Gilson Reis, a honra de ler um trecho do documento aprovado no encontro, intitulado “Em solidariedade à Bolívia e à Evo Morales”, cujo subtítulo — “Quem se levanta com a Bolívia e Evo se levanta por todos os povos e para todos os tempos” — sintetiza o espírito da manifestação.

Campesinos laborais

Das diversas organizações internacionais que enviaram dirigentes à Bolívia cabe destacar o fórum indígena da América do Sul. Diferentemente do Brasil, na Bolívia os índios constituem a maioria da nação, são predominantemente os “campesinos laborais” que com certeza compõem a classe trabalhadora, fortemente explorada e oprimida pelos capitalistas e latifundiários locais, assim como pelas transnacionais e pelo imperialismo americano.

 A questão indígena não pode ser entendida à margem das classes sociais ou em contraposição à chamada questão social. São coisas intimamente interligadas e, na medida em que a revolução democrática em curso na Bolívia proclama o objetivo socialista e se choca com os interesses das transnacionais, principalmente (mas não só) dos Estados Unidos, ela adquire um nítido caráter proletário.

Luta nacional e de classes

O que presenciamos na Bolívia é um duro embate de classes que tem também um sentido nacional. A Bolívia como nação foi ameaçada seriamente pela convergência de interesses do imperialismo e da grande burguesia local, que querem esquartejar o país, ao passo que os legítimos interesses nacionais, a soberania e a integridade territorial, são defendidos pela classe trabalhadora, composta majoritariamente pelos indígenas.

Seria equivocado não compreender esta ligação ou colocar uma muralha da China entre a questão nacional e a questão social, separando artificialmente a luta nacional da luta de classes. Percebi na Bolívia, como representante da CTB, um povo altamente politizado, organizado e participante, protagonizando este momento de mudança do país, que me parece irreversível.

Racismo

Evo Morales, que se projetou na vida política como líder sindicalista dos cocaleiros, é o primeiro índio a ser eleito presidente da Bolívia em 180 anos de história. Sua ascensão ao mais elevado cargo da República é emblemática da elevação de consciência da população indígena.

Consagrado nas urnas por duas vezes (a última no referendo revogatório realizado em 12 de outubro, quando obteve 67% dos votos), o ex-sindicalista não esqueceu suas origens e está honrando os compromissos que assumiu com seu povo de promover profundas transformações sociais no país. O que está em curso é a refundação da Bolívia, cujo governo tem uma participação majoritária dos índios e uma presença marcante das mulheres.

O governo nacionalizou e submeteu ao controle do Estado a exploração dos recursos naturais (sobretudo gás e petróleo), o que possibilitou triplicar os recursos destinados à área social, avançar no combate ao analfabetismo (que, graças à ajuda de Cuba e Venezuela, deverá ser erradicado no prazo de um ano), iniciar a reforma agrária e prover os mais pobres de uma renda mínima.

Estagnada durante a longa noite neoliberal, a economia boliviana recuperou o fôlego com a nova política e o PIB passou a crescer a taxa superior a 4% desde a eleição de Morales, em 2005. O sucesso político, econômico e social (contrariando as aves de mau augúrio do neoliberalismo, que previam a fuga do capital estrangeiro e a catástrofe econômica) despertou o despeito e o ódio das elites brancas endinheiradas, que fazem do racismo uma profissão de fé e agem como notórios fascistas.

Fascismo

Vários ministros da República boliviana relataram os trágicos acontecimentos dos últimos meses, patrocinados pelas elites racistas com o apoio descarado dos Estados Unidos com o objetivo de dividir o país e derrubar o governo de Evo Morales, mesmo depois que este obteve uma consagração histórica nas urnas no referendo de outubro.

Fizeram um pouco de tudo quanto é patifaria nas localidades (departamentos e províncias) governadas pela oposição — Santa Cruz de La Sierra, Camire, Sucre, Pando e Mineros. Ocuparam aeroporto, invadiram a rede de TV estatal e chegaram a promover um massacre que resultou na morte de cerca de 30 índios (em Pando, cujo governador foi detido e encarcerado).

O adjetivo “fascista” empregado pelos ministros de Morales para definir o comportamento da oposição não poderia ser mais preciso. Felizmente, a mobilização dos movimentos sociais e a posição firme da Unasul paralisaram a mão assassina da direita neoliberal e impediram a vitória da conspiração golpista, que sempre contou com ostensivo apoio de Tio Sam.

Revolução

Penso que o que está em curso na Bolívia pode ser definido como uma revolução democrática. Reforcei esta convicção no encontro com o presidente Evo Morales, que em seu discurso homenageou o veterano líder cubano Fidel Castro e reafirmou seu compromisso com a mudança social e a luta contra o neoliberalismo e o imperialismo.

A nova Constituição, que vai a referendo em janeiro apesar da oposição desesperada da direita neoliberal, já avança neste caminho, pois promulga a paz, impedindo a participação da Bolívia em guerras no exterior, defende as culturas indígenas, preservando 18 línguas nativas e assegurando que pelo menos duas serão ensinadas obrigatoriamente nas escolas — o espanhol mais uma língua indígena, consolida a nacionalização dos recursos naturais e a democratização e redistribuição da posse da terra (reforma agrária).

EUA isolados

O encontro realizado em Santa Cruz criou um fórum permanente de solidariedade à Bolívia, do qual a CTB fará parte, e também aprovou um importante documento em apoio ao povo indígena e ao presidente Evo Morales. O texto enaltece o atual governo por promover a cultura da vida contra o racismo, o neocolonialismo, o autoritarismo e a cultura da morte; exige justiça para os irmãos e irmãs bolivianas que foram atingidos pelos ataques da direita fascista e racista; reconhece que está em curso a refundação da Bolívia pela nova Constituição e a consolidação de uma democracia plurinacional; identifica uma transgressão direta aos direitos humanos contra os indígenas e exige da Justiça a apuração rigorosa dos crimes cometidos recentemente e a punição dos culpados nos departamentos e municípios governados pela direita neoliberal.

É importante assinalar que o governo Morales também conta com significativo apoio de países europeus, que neste caso estão se comportando de forma autônoma e bem diferente dos Estados Unidos. O governo espanhol enviou um ministro ao ato de solidariedade ao presidente índio, que entregou 200 ambulâncias doadas pela Espanha ao país andino e prometeu uma relação de parceria com a Bolívia, sem ingerência na autonomia do povo e envolvimento nas conspirações subversivas da direita racista. É um claro sinal do isolamento do imperialismo estadunidense e da mudança do cenário político na América Latina.

Por Joílson Cardoso (secretário de Política Sindical e Relações Institucionais da CTB)

COMENTÁRIO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias

Artigo
Ciência
COVID-19
Cultura
Direitos
Educação
Entrevista
Eventos
Geral
Mundo
Opinião
Opinião Sinpro Minas
Política
Programa Extra-Classe
Publicações
Rádio Sinpro Minas
Saúde
Sinpro em Movimento
Trabalho

Regionais

Barbacena
Betim
Coronel Fabriciano
Divinópolis
Governador Valadares
Montes Claros
Patos de Minas
Poços de Caldas
Pouso Alegre
Sete Lagoas
Uberaba
Uberlândia
Varginha