A valorização da diversidade racial ainda não é realidade no ambiente escolar. Embora o presidente Lula tenha sancionado, em 2003, lei que torna obrigatório a inclusão de conteúdos sobre a história e a cultura afro-brasileiras nos currículos escolares dos ensinos médio e fundamental, o assunto está distante da sala de aula. É o que aponta uma pesquisa realizada pela organização não-governamental Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdade (Ceert).
“A lei é importante, mas ainda não tem efetividade, não tem implementação, ainda carece de um esforço por parte dos governos para assegurar sua efetiva aplicação”, avalia Hédio Silva, um dos coordenadores do Ceert.
O levantamento mostra que, geralmente, o tema é abordado pelos professores somente em datas comemorativas, como a Abolição da Escravatura (13 de maio) e o Dia da Consciência Negra (20 de novembro). De acordo com a pesquisa, feita entre 2005 e 2006 com 987 professores do município de São Paulo, 70% dos educadores trabalham a diversidade em datas específicas, 54% desconhecem a lei e as diretrizes curriculares de valorização da diversidade e 38% acreditam que falta formação para abordar os novos conteúdos em sala de aula.
De acordo com o coordenador da ONG, o levantamento também mostrou que os professores reconhecem o papel da escola na valorização da diversidade e estão dispostos a colaborar com a implementação dos novos conteúdos.
“Há uma consciência por parte dos educadores desse papel estratégico da escola. Mas disponibilidade e boa vontade são insuficientes para se obter uma resposta consistente da educação; são necessários investimentos maciços na capacitação de professores, de treinamento, na disponibilização de fontes de pesquisa e de bibliografia e na checagem dos materiais que circulam nas escolas”, lista.
Segundo Silva, os materiais didáticos utilizados nas escolas brasileiras, de modo geral, “ainda têm referências européias, eurocêntricas” e não valorizam a “geografia de identidades culturais” que formam o Brasil. “Não é razoável que um material didático possa veicular uma imagem estereotipada, que induza ao preconceito contra a população negra. É preciso introduzir valores positivos, que associem, compreendam e projetem a diversidade como a riqueza que ela representa para a humanidade”.
Segundo a lei 10.639, “o conteúdo programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinente à História do Brasil”.
DesafiosPara Iris Amâncio, professora da Puc Minas, um dos primeiros desafios na implementação da lei refere-se ao imaginário brasileiro que, “apesar das evidências, insiste em negar as contínuas expressões de racismo no cotidiano, principalmente na escola. Outra barreira está relacionada à capacitação dos professores. “Como grande parte não recebeu formação em História da África e em culturas africanas, não está preparado para tratar profissionalmente desses conteúdos”, destaca. Além disso, segundo ela, ainda há pouca disponibilidade de títulos que possam servir como suportes pedagógicos.
Outra lacuna apontada pela professora é a pouca disponibilidade de títulos publicados nessa área do conhecimento, que possam servir de suportes pedagógicos a professores e alunos. “Um terceiro desafio, a meu ver, emerge quando, na prática pedagógica, todos esses fatores se entrecruzam, o que resulta, freqüentemente, na resistência do professor ao trabalho com os temas relativos à África e ao Afro-Brasil”, avalia Iris.
Segundo ela, a maioria dos estabelecimentos privados considera suficiente o registro de alguma atividade no 20 de novembro, em detrimento de um trabalho contínuo de atualização das referências sobre África, o que acaba reforçando as bases do racismo no Brasil.
Com Agência Brasil
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