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Professoras dizem que vale a pena viver pela educação

16 de outubro de 2017

Para homenagear as professoras e professores de todo o país, o Portal CTB fez uma enquete com os profissionais da educação, filiados à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Por todos os desastres promovidos pelo governo ilegítimo de Michel Temer, a pergunta feita foi: vale a pena ser professora ou professor?

No início deste ano, o governo federal cortou R$ 4,3 bilhões do orçamento do Ministério da Educação. Além desse corte, os docentes têm pouco a comemorar sobre as condições de trabalho, já que a Emenda Constitucional 95 congela por 20 anos os seus salários e os investimentos em serviços públicos.

Para Marilene Betros, secretária de Políticas Educacionais da CTB, “uma das prioridades do governo golpista é atacar a educação pública para impedir o livre pensar e dessa forma dominar a sociedade mais facilmente”. De acordo com ela, os projetos do Ministério da Educação visam limitar a escola pública ao âmbito do ensino básico. E ainda tirando matérias essenciais para desenvolver o senso crítico das crianças e jovens.“Desobrigar o ensino de Filosofia, Sociologia, História, Artes e Educação Física, mostram o propósito de manter o saber restrito a uma minoria, que terá essas matérias em escolas particulares e caríssimas”. Além disso, incluem “ensino religioso confessional, impondo uma religião sobre as outras, dificultando inclusive o debate de questões importantes a que a escola tem sido chamada e os conservadores temem”.

Mesmo assim, diz Betros, “vale a pena ser professora, porque todos os dias renovamos o nosso conhecimento absorvendo o saber de nossos alunos e com essa troca evoluímos e juntamente com os estudantes criamos as possibilidades para a construção do novo”.

Celina Arêas, secretária da Mulher Trabalhadora CTB

“A classe trabalhadora de um modo geral, vive um momento de resistência pelos direitos questão nos tirando, de defesa da democracia e do Estado Democrático de Direito. E as professoras e os professores sentem mais com muita tristeza essa agenda de retrocessos. A Emenda Constitucional 95 que congela salários e investimentos nos serviços públicos, notadamente na educação e na saúde. Quem perde mais com tudo isso é a classe trabalhadora, cujos filhos e filhas correm risco de não terem escola no futuro. Já existem universidades federais sentindo profundamente os cortes na educação, fechando cursos, não fazendo vestibulares para novas turmas.

A educação no campo está totalmente abandonada, com previsão de encerramento de mais de 60% dos cursos. Os projetos apresentados pelo Ministério da Educação privilegiam os empresários do setor e fragiliza a educação pública. A escola particular trata a educação com mera mercadoria e não como um bem para a humanidade. E ainda existe a Escola Sem Partido que é inconstitucional, mas ameaça as nossas cabeças e a dos estudantes com mais e mais repressão.

Com tudo isso, ainda vale muito a pena. O melhor espaço da professora e do professor é a sala de aula. Como disse o escritor Guimarães Rosa, “mestre é aquele que de repente aprende”. E é essa beleza de ensinar aprendendo e ver os frutos brotarem que faz valer a pena trabalhar na educação”.

Raimunda Gomes (Doquinha), secretária de Comunicação da CTB

“Sempre vale a pena. A profissão docente é indispensável em todas as sociedades, em qualquer tempo. Hoje com toda a onda conservadora que se abateu sobre o Brasil, é imprescindível que a profissão seja resguardada em sua importância estratégica, sem desmerecer nenhuma outra profissão, mas, o magistério possui a missão de conduzir seres humanos à busca do conhecimento, do entendimento de si e do outro. A interrelação que se constrói entre o sujeito que ensina e o sujeito que aprende, é uma via de mão dupla, que não se mede pelo salário apenas e nem a curto prazo, é um processo de construção em etapas”.

Valéria Morato, presidenta da CTB-MG

“Considero que vale a pena sim, ser professora. Apesar de todo ataque e desvalorização da profissão, não vejo alternativa para a transformação da sociedade que não passe pela educação. E nesse caso, o professor tem papel preponderante e essencial! E isso nos honra muito”!

Leia matéria completa no Portal CTB

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Leia abaixo artigo que aponta os desafios de ser professor hoje no setor privado de ensino:

O que temos para comemorar no Dia do Professor?

Por Railton Nascimento Souza 

Muito se pergunta sobre os motivos para comemorarmos esse dia, pois o contexto é adverso, de contínuos ataques aos direitos dos trabalhadores e retrocessos na educação como a Lei da Mordaça que se apresenta, dissimuladamente, por Escola Sem Partido. Sob essa perspectiva, não há o que comemorar. Entretanto, ainda comemoramos o Dia do Professor. Sim, celebramos porque temos orgulho da nossa apaixonante profissão. Comemoramos visto que temos a consciência política e cidadã do nosso valor social. É a profissão Professor que forma as demais profissões. Ao apurar as condições culturais, éticas e humanas da sociedade, é o trabalho do profissional da educação que promove o desenvolvimento social, impulsiona o avanço do conhecimento técnico-científico e, por conseguinte, o crescimento econômico.

Uma pesquisa recente feita pelo Sindicato dos Professores do Estado de Goiás – Sinpro Goiás, então sob a coordenação do Professor e psicólogo Luciano Montalvão, nos mostra que os professores do setor privado, em geral, trabalham em mais de um nível de ensino. A investigação revelou que 57,2% dos entrevistados consideram sua remuneração péssima ou ruim, 39,7% boa, e apenas 3,1% ótima ou excelente, sendo que, 63,9% dos profissionais pesquisados são mulheres e trabalham na educação básica. Muito preocupantes são os dados oferecidos pela pesquisa do Sinpro Goiás em relação à valorização profissional. Apenas 10% dos professores se sentem valorizados pela sociedade, pais, alunos e gestores. Outro sinal de alerta é o dado sobre saúde dos docentes, pois 35,6% dos entrevistados consideram sua saúde ruim ou péssima, o que objetivamente nos leva a um número significativo de professores a se afastar da sala de aula por debilidades físicas e psíquicas, ou mesmo por abandono da profissão. Muitos professores do setor privado relatam trabalhar até mesmo doentes, graças à grande pressão que sofrem nas escolas e ao temor de serem demitidos. Não são raros os casos de depressão, crises de ansiedade e Síndrome de Burnout, estado de adoecimento psicossocial que leva o professor a perder completamente o gosto pela profissão.

Outro ponto relevante é a violência nas escolas. No setor privado a violência é observada no clima autoritário imposto pelo ambiente escolar competitivo em que o estudante deve ser aprovado nos exames a todo custo. Condições estimuladas pelo alto número de alunos acima do permitido por sala, pela vigilância através de câmeras e funcionários que ficam nos corredores olhando nas janelas da sala de aula. Há, também, a violência de uma carga de trabalho excessiva que leva o professor a se empregar até em 3 turnos para obter renda mais satisfatória, forçando-o ainda a levar planejamentos e avaliações para casa, ocupando seus finas de semana com atividades laborativas extraclasse. Não podemos esquecer o assédio moral que coloca o professor a todo tempo sob ameaça de demissão e pressão para ministrar muito conteúdo, manter a disciplina da sala de aula e ainda ficar sempre com um sorriso nos lábios. Não é por acaso que uma pesquisa sobre violência na escola, feita com mais de 100 mil professores e gestores de escolas da segunda fase do ensino fundamental e ensino médio (alunos de 11 a 16 anos), realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), coloca o Brasil em primeiro lugar da lista entre os 34 países pesquisados.

Além disso, os professores ainda devem enfrentar o retrocesso dos defensores da Lei da Mordaça, mal denominada Escola Sem Partido, que quer impor o pensamento único travestido de neutralidade para calar o pensamento crítico na escola brasileira. O próprio STF (Supremo Tribunal Federal), através do voto do ministro Luís Roberto Barroso em razão de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) movida pela CONTEE (Confederação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino), determinou a inconstitucionalidade de um projeto dessa natureza que tramitou e foi aprovado na Assembleia Legislativa de Alagoas.

O Ministro Barroso deixou claro que o Projeto Escola Sem Partido fere os princípios constitucionais do pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, a liberdade de aprender e ensinar, de pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. Escola Sem Partido é uma farsa proposta por alguns integrantes de partidos conservadores que pretendem impedir os alunos de conheceram a diversidade do pensamento político e ideológico, bem como privar o professor de manifestar sua opinião, reduzindo-o a um mero transmissor mecânico de saberes. Acentua, ainda, que “nenhum ser humano e, portanto, nenhum professor é uma ‘folha em branco’. Cada professor é produto de suas experiências de vida, das pessoas com quem interagiu, das ideias com as quais teve contato… Não existe escola sem ideologia…Toda opinião é política, inclusive a Escola Sem Partido… está presente aludido dispositivo a intenção de impor ao professor uma apresentação pretensamente neutra dos mais diversos pontos de vista – ideológicos, políticos, filosóficos – a respeito da matéria por ele ensinada, determinação que é inconsistente do ponto de vista acadêmico e evidentemente violadora da liberdade de ensinar.”

De volta à pergunta que iniciou nossa reflexão: o que temos para comemorar no Dia do Professor? Apesar do desfavorável contexto exposto, os milhares de professoras e professoras continuam a alfabetizar crianças, a formar a cidadania dos jovens e a profissionalizar adultos, com muita determinação e garra. Só quem é professor sabe a paixão que temos pela arte de ensinar. Sim, comemoramos o nosso dia e acumulamos força para enfrentar os desafios gigantes a nós impostos por essa época de evidentes retrocessos. Mais que nunca, precisamos compreender a importância do esforço coletivo e da organização sindical, pois para garantir a manutenção dos nossos direitos conquistados com muita luta e melhorar as condições objetivas que favoreçam a valorização da carreira docente, temos que nos unir e combater o bom combate. Juntos podemos muito mais.

* Railton Nascimento Souza é professor de filosofia no ensino médio e superior e Presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás – Sinpro Goiás.

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