Embora a maioria das inscrições no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) seja de meninas, mais de 70% dos estudantes que tiraram as 1.000 maiores notas são meninos. O total de jovens do sexo masculino se sai melhor nas quatro áreas cobradas pela mais importante avaliação de ensino do País. A maior diferença está nos exames de Matemática e Ciências da Natureza.
Garotas negras (pretas e pardas), que são a maior parte dos inscritos no Enem, representam só 6% das notas mais altas. Os meninos brancos são quase 50% dos que conseguiram as notas mais altas da prova e 15% dos candidatos. Nesse milhar, onde todos tiraram nota acima de 781,68 (escala vai de 0 a 1.000), as idades variam entre 17 e 19 anos, a maioria estudou em escolas particulares e possui renda familiar acima de R$ 10 mil.
Os números são de 2016 e se referem à parte objetiva do exame, que inclui ainda Ciências Humanas e Linguagens. Realizaram as provas 4,8 milhões de estudantes. Foram excluídos os treineiros e os que tiveram nota zero em alguma área.
Em Matemática, a nota de meninos brancos é 52 pontos maior que a de meninas brancas. Com relação às negras, são 81 pontos. Meninos negros têm desempenho melhor em Matemática e em Ciências da Natureza do que as brancas e as negras.
No geral, os garotos têm nota 41,8 pontos superior às garotas em Matemática e 24,3 em Ciências da Natureza, que inclui Física, Química e Biologia. Em Ciências Humanas há diferença de 21,6 pontos no geral, mas o desempenho das meninas é puxado para baixo pelas negras, já que as brancas têm até nota mais alta do que os negros. O padrão de notas mais altas do sexo masculino repete o do Enem de 2014 e 2015.
“A explicação não deve ser buscada na Biologia, embora cérebros de homens e mulheres não sejam iguais. Mas isso não afeta a cognição, em áreas do raciocínio lógico, muito menos na inteligência”, disse ao jornal O Estado de S.Paulo o professor titular de neurociência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Lent. Para ele, o que mais influencia são as posições da família e os estereótipos da sociedade.
Países como Finlândia, Suécia, Rússia e Estados Unidos não apresentam mais as diferenças de desempenho em Matemática entre meninos e meninas que ocorriam no começo dos anos 2000. Essas nações passaram a oferecer programas especiais para as meninas nessas áreas.
Divulgação do Enem 2017 antecipada para o dia 18
Os resultados do Enem 2017 serão disponibilizados com um dia de antecedência, em 18 de janeiro, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Poderão ser consultados individualmente na Página do Participante. Será necessário informar o CPF e a senha cadastrada na inscrição. A mesma senha dará acesso ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que ficará aberto de 29 de janeiro a 1º de fevereiro.
O Enem é a principal forma de acesso para vagas na rede pública de ensino superior, sendo aceito inclusive por 27 instituições de Portugal. No total, cerca de 4,5 milhões de alunos fizeram as provas. O índice de abstenção, na casa dos 32%, ficou um pouco acima da média em sete anos. Segundo o Ministério da Educação (MEC), o Enem é a segunda maior prova do tipo no mundo, só perdendo para o gao kao, prova de admissão ao ensino superior da China, com 9 milhões de candidatos.
Ensino público ganha destaque e perde verbas
Os institutos federais estão no topo das escolas públicas em 14 Estados, no Enem 2016, mas suas verbas caíram 14%, levando em conta a inflação, de 2015 a 2017. São 644 campi e 878 mil alunos. 36 unidades fechadas por falta de dinheiro. Os institutos federais registraram média 564,93 no Enem de 2016, apenas 3% abaixo da rede privada (580,93).
No ano passado, receberam R$ 3,1 bilhões, segundo o governo. Recursos para investimentos (obras e compra de equipamentos) recuaram 61% de 2015 a 2017. No ano passado, foram repassados R$ 319 mil. Representantes das instituições reclamam de impactos negativos, como cancelamentos de projetos e sucateamento de infraestrutura. Há 36 unidades fechadas por falta de dinheiro. O Governo Temer estipulou um orçamento de R$ 3,37 bilhões para 2018. Se os contingenciamentos dos últimos anos se repetirem, esse valor não será alcançado.
Fonte: Carlos Pompe, da Contee
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