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'Escola que age assim forma ditadores', diz médico sobre Colégio Militar

21 de setembro de 2020

Diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling diz que, ao retomar atividades presenciais, escola ‘ignorou princípios de civilidade’ e arrisca processo de flexibilização da capital

Por Cecília Emiliana, no Uai

Para o diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, a retomada das aulas presenciais no Colégio Militar de Belo Horizonte, iniciada nesta segunda-feira (21), é perigosa e “desrespeita princípios básicos de civilidade”.

“Muito me admira que um colégio público, mantido com dinheiro público, negue a ciência, passe por cima de uma decisão judicial e desrespeite princípios tão básicos de civilidade. Que tipo de alunos essa instituição vai formar? Escola que age assim, para mim, forma ditadores”, avalia o médico.

Segundo o infectologista, para que o retorno seja considerado razoavelmente seguro, a cidade precisa atender ao parâmetro técnico de até 20 infectados pela COVID-19 por 100 mil habitantes durante 14 dias. O critério é da agência americana Centers for Disease Control and Prevention (CDC), adotado em países como Estados Unidos e Holanda. A capital mineira, de acordo com Starling, atualmente, apresenta 160 casos da doença por 100 mil habitantes, média classificada como de alto risco.

“Países como a Coreia do Sul estabeleceram padrões ainda mais rígidos, de 5 casos por milhão de habitantes. Essa escola se esquece de que, antes de ser um ente federal, está inserida em uma comunidade. Se houver um surto de COVID-19 ali, todo o processo de flexibilização de BH pode ser derrubado e o sistema de saúde, seriamente comprometido”, alerta.

O infectologista afirma que os protocolos sanitários anunciados pela escola – tais como número máximo de 15 alunos por sala e distanciamento de 1,5 metro entre as carteiras – não protegem os jovens e profissionais da instituição no atual cenário da pandemia. Ele explica que as medidas só são eficientes dentro do contexto de baixo risco de transmissão.

“Outra questão séria é que as crianças infectadas pela COVID-19 comumente desenvolvem a síndrome inflamatória, quadro tratado com imunoglobulinas (medicamento que contém contém anticorpos). E nós sequer temos estoque suficiente desse medicamento para o dia a dia, para tratar outras doenças inflamatórias não relacionadas à COVID. Como é que vamos tratar as crianças infectadas?”, questiona Starling.

Retorno
Fechado desde 11 de março, o Colégio Militar de Belo Horizonte retomou as aulas presenciais na manhã desta segunda-feira (21), com revezamento de turmas. Estudantes do ensino médio frequentam a escola às segundas, quartas e sextas, em de forma alternada. Os do ensino fundamental – 8º e 9º ano – às terças e quintas.

Na noite de sexta-feira (18), a Justiça Federal barrou o retorno dos 620 alunos do colégio. A decisão atende ao requerimento do Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas no Serviço Público Federal em Minas Gerais (Sindsep-MG).

Em comunicado emitido aos pais no domingo (20), a escola argumentou que a retomada estaria amparada em parecer de força executória da Procuradoria-Geral da União (PGU) e da Advocacia-Geral da União (AGU). Juristas consultados pela reportagem, no entanto, argumentam que uma decisão judicial só pode ser sobreposta por outra.

Foto: Ítalo Lopes | Divulgação

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