Pesquisa coordenada pelo infectologista Carlos Starling mostra que a capital não tem situação segura para retomada do ano letivo.
Por Roger Dias, no Estado de Minas
No momento em que se intensifica o debate sobre a volta às aulas em Minas Gerais em pleno período de pandemia, Belo Horizonte ainda vive situação de perigo na expansão da doença e tem risco alto de transmissão nas escolas. Essa foi a conclusão de um estudo coordenado pelo infectologista Carlos Starling, integrante do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus na capital mineira, com base nos dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Segundo a pesquisa, a cidade apresenta uma taxa de transmissão comunitária alta do vírus e não há garantias de que os estudantes estariam seguros nas instituições de ensino.
Para chegar à conclusão, o grupo de pesquisadores somou os casos de cada município nos últimos 14 dias e dividiu pela população total. Com base no Centro de Controle de Doenças (CDC), de Atlanta, uma taxa de COVID-19 é considerada baixa se existir menos de 20 infectados por 100 mil habitantes nos mesmos 14 dias. Já a taxa de transmissão alta é considerada quando o número de contaminados estiver entre 50 e 200 por 100 mil habitantes. Já a expansão muito alta seria quando os casos ultrapassarem os 200 no mesmo período, por 100 mil habitantes.
O cenário vivido por Belo Horizonte é semelhante ao de outros 331 municípios mineiros, que também contam com taxa de transmissão alta, independentemente da região em que se encontram. São os casos de Contagem (617 mil habitantes), Betim (429.507), Ibirité (155.209), Teófilo Otoni (130.521), Sabará (125.285), Ouro Preto (69.251) Formiga (66.834), cujos índices de expansão da doença ainda estão em situação alarmante e por isso, torna-se inseguro dar o pontapé inicial para a reabertura das escolas.
Mesmo que ainda esteja em situação de risco, Belo Horizonte vem apresentando estabilidade no número de casos por 100 mil habitantes. A pesquisa mostra que a média de infectados foi de 290 por 100 mil de 22 de julho a 4 de agosto, subiu para 311 de 5 a 18 de agosto, mas apresentou novas quedas de 19 de agosto a 1º de setembro (206), de 2 de 15 de setembro (170) e 16 a 29 de setembro (162).
“Em Belo Horizonte, temos essa tendência de redução da taxa de transmissão da doença, o que é positivo. Temos uma taxa ponderada, que está caindo aos poucos, o que dá condições de as escolas reabrirem com segurança no futuro. Apesar de os números serem elevados, os casos na cidade vêm caindo”, ressalta Carlos Starling.
O levantamento mostra também que 52 municípios mineiros (6% do total) apresentam atualmente uma taxa baixa de transmissão de COVID-19 e outros 163 têm índice muito baixo de expansão. Por outro lado, 167 cidades (20%) ainda vivem o pico da doença, com taxas muito altas de contaminação, como Ipatinga (241 mil habitantes), Itabira (109 mil), Muriaé (99 mil) e Nova Lima (75 mil). Essas cidades têm de fazer um esforço grande para baixar as taxas e a população seguir as normas para ter uma situação confortável para a volta às aulas”, afirma o infectologista.
Estabilidade
Os números do estudo mostram também que 401 cidades mineiras (47%) apresentaram tendência de queda nos casos e por isso estariam mais próximas de reabrir as instituições de educação. Outras 395 seguem em alta e apenas 57 (7%) estão numa situação estável.
Ele explica que, por causa das situações diferentes nas regiões de Minas, menos da metade dos municípios poderia reabrir as escolas com segurança: “Concluímos que somente 25% dos municípios mineiros estariam em situação adequada e confortável para dar início às aulas. Mas a maioria não tem condição. E hoje a metade do estado vive aumento de casos e a outra metade vem reduzindo”
O estudo classificou também os riscos de transmissão por região de Minas. O Triângulo do Sul e o Triângulo do Norte seriam as com maior perigo no retorno às aulas, com 74% e 48% de risco muito alto de transmissão nas escolas, respectivamente. Em seguida, vem o Noroeste (39%), o Leste (25%) e o Sul (25%). Na parte de baixo, as regiões mais seguras para a retomada do ano letivo seriam o Jequitinhonha, com 42% de risco muito baixo de transmissão, e a Centro-Sul, com 41%.
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