A matéria “Por que o medo de ser demitido prejudica a produtividade do funcionário a longo prazo”, publicada pela BBC Brasil trouxe à baila uma importante discussão à cerca do aprofundamento da crise econômica no Brasil e o desemprego galopante.
Já são mais de 15 milhões de desempregados, boa parte constituída por jovens. Soma-se a isso, a aprovação da reforma trabalhista e o fim da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). “O medo de ser demitido aumenta substancialmente em períodos de grande desemprego, fazendo com que trabalhadores e trabalhadoras se sujeitem a toda forma de opressão”, diz Elgiane Lago, secretária da Saúde da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
A sindicalista lembra que o desemprego freia inclusive as denúncias de assédio moral e sexual no mundo do trabalho e “certamente isso adoece mais as pessoas”. De acordo com ela, o medo de perder o emprego inclusive cria “desmotivação para o trabalho”.
Luiz Carlos Fadel, pesquisador do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, vai no mesmo rumo de Lago. “A reforma trabalhista vai agudizar ainda mais essa situação, porque manter-se no emprego pode ficar tão difícil que as pessoas se submeterão a qualquer condição para não ficar sem trabalho”.
Para o especialista em medicina do trabalho, o desemprego crescente e a insegurança que a reforma trabalhista trará “acarretarão problemas sérios de saúde mental e problemas vasculares. O ser humano não existe para viver sobre pressão constante, precisamos de válvula de escape”.
O especialista William Schiemann, chefe do grupo Metrus, nos Estados Unidos, afirma à BBC que “é um tiro pela culatra quando empresas usam a segurança no emprego como um graveto, em vez de uma cenoura, porque os funcionários perdem o sentimento de compromisso”.
“Eu tenho percebido campanhas para incentivar a denúncia de assédios sexuais e morais no trabalho, mas realmente infelizmente a falta de oferta de emprego e a situação econômica no país acaba sujeitando as mulheres a passarem por esses constrangimentos”, diz Lago.
Certamente, diz ela, “isso afeta muito a saúde mental da trabalhadora porque além de trabalhadora ela é mulher, mãe e esposa”. Por isso, “temo muito pela regularização da reforma trabalhista que vai afetar terrivelmente a qualidade de vida da classe trabalhadora, levando as pessoas a uma carga de estresse ainda mais insuportável”.
Tinne Vander Elst, uma psicóloga organizacional da Universidade de Leuven, na Bélgica conclui que “há uma relação entre insegurança com o trabalho, níveis mais baixos de performance e de comportamento inovativo e mais comportamentos de bullying e rotatividade real”.
Fadel concorda com a cetebista gaúcha e acrescenta que “o crescimento do adoecimento de quem trabalha vai ficar invisibilizado porque com a quebra do vínculo trabalhista, as pessoas terão onde notificar o seu caso”.
Para ele, “os planos de saúde não farão essa notificação e o Sistema Único de Saúde (SUS) tão pouco”. Fadel argumenta que a situação pode ficar tão ruim que “a indústria farmacêutica vai ganhar muito dinheiro, se as pessoas tiverem dinheiro para se medicar”.
Portal CTB – Marcos Aurélio Ruy. Ilustração: Arte/UOL
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