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Gilson Reis: “Luta pela valorização dos trabalhadores em educação é uma só, nas redes pública e privada”

20 de março de 2012

Tomaram posse no dia 9 de março os novos membros que comandarão o Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas) pelos próximos quatro anos (2012/2016).

 

Com 97% dos votos, a nova direção, presidida pelo reeleito Gilson Reis, apostou na renovação e consagrou-se vitoriosa na maior votação já registrada na história do sindicato. Fundado em 1933, o sindicato atua em defesa dos direitos dos professores da rede privada no estado e por uma educação de qualidade.

 

Reconduzido à presidência do Sinpro Minas, o mineiro Gilson Reis, nascido em Belo Horizonte, é professor de Biologia e ativista político do movimento ambientalista. Nos últimos 20 anos esteve à frente de importantes lutas políticas e populares em Minas Gerais e no Brasil.

 

Fundou e presidiu o Diretório Acadêmico da Faculdade Metodista Izabela Hendrix, foi dirigente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da CUT. Atualmente, além de presidente do Sinpro, ocupa a presidência da CTB-MG.

 

Para Gilson Reis, a vitória nas urnas representou o reconhecimento da categoria pelo trabalho realizado pela antiga gestão. Em entrevista ao Portal CTB, o dirigente fala sobre o processo eleitoral e a situação dos educadores da rede privada, que não é diferente da pública, pela falta de valorização, de salários dignos e de condições de trabalho.

 

Confira a entrevista na íntegra abaixo:

 

Portal CTB: Mesmo com a antecipação do processo eleitoral, a participação da categoria foi massiva. O resultado das urnas representou o reconhecimento do trabalho realizado pela última gestão?

 

Gilson Reis: Em função da reforma do estatuto da entidade, tivemos que antecipar as eleições em oito meses. Havia uma preocupação quanto ao processo de mobilização da categoria, pois o estado é enorme e o colégio eleitoral muito grande, porém topamos o desafio e tivemos nas eleições sindicais a maior votação de todos os tempos, mais de 16 mil votos. Com certeza, essa votação massiva foi o reconhecimento do grande trabalho que realizamos no Sindicato.

 

Ao longo dos últimos anos, período em que você presidiu o sindicato, quais foram as principais conquistas obtidas?

 

O Sinpro Minas é hoje reconhecido pela sua luta, organização e compromissos com os trabalhadores. Nesta gestão realizamos dezenas de greves, ampliamos a comunicação em todos os meios disponíveis, temos um programa de 20 minutos todos os domingos na Band (200 programas nos últimos três anos); revista científica “Extra-classe”, revista “Elas por elas”, ampliação das sedes regionais, cursos de formação, congressos de educação, fortalecemos a CTB, Fitee e Contee, renovamos a diretoria com 53 novos sindicalistas, eleições de representantes sindicais, lutamos pelo PDE – Plano decenal de educação em Minas e Pelo PNE – plano nacional de educação, dentre varias outras lutas e conquistas alcançadas no ultimo período.

 

Neste período realizamos duas greves gerais e dezenas de greves por escolas. Denunciamos o processo de desnacionalização e mercantilização da educação. Mantivemos todas as conquistas da categoria e ampliamos direitos trabalhistas e organizativos. Reajustes reais de salários, delegados sindicais, regulamentação inicial de EAD, unificação de pisos de professores de educação infantil, ampliação de bolsas de estudos, mudança da data base entre outras conquistas.

 

Quais serão os desafios para a nova diretoria?

 

Estamos diante de cinco grandes desafios nesta gestão: 1 – Vincular a ação do Sinpro Minas ao projeto de desenvolvimento nacional com valorização do trabalho, este projeto inclui lutar pelas reformas estruturais que o país necessita e o Sinpro estará a frente: comunicação, agraria, educacional politica, saúde e urbana. 2 – Avançar no projeto de educação publica de qualidade, laica, universal e inclusiva. 3 – lutar pelos 10 % do PIB para a educação. Estamos em processo de coleta de assinaturas com esse objetivo, pela regulamentação do setor privado de educação e pela construção do sistema nacional de educação. 4 – lutar incansavelmente pela valorização dos trabalhadores em educação do setor privado e público. 5 – Na esfera sindical, vamos denunciar as correntes patronais e liberais que atacam a unicidade sindical e o imposto sindical, medidas decisivas para a manutenção da organização sindical brasileira e para o avanço da nossa mobilização e luta.

 

A questão do piso salarial ainda tem sido um problema para a categoria na maioria dos estados brasileiros. Como é a situação no setor privado?

 

É um mito afirmar que escolas privadas pagam bons salários. Existem algumas poucas escolas que têm como política de valorização de seus profissionais. Podemos afirmar que na grande maioria das escolas privadas os salários são muito baixos, o que leva os profissionais de educação a trabalharem em dois ou três turnos, no que reflete diretamente na qualidade da educação desenvolvida no país. A luta pela valorização dos trabalhadores da rede pública está ligada ao setor privado, por isso apoiamos o piso nacional e atual politica de reajuste dos pisos. É preciso afirmar que valorização dos professores consiste em três pilares: piso profissional, plano de carreira e formação inicial e continuada.

 

Quais os principais desafios a serem vencidos no setor privado?

 

Em primeiro lugar, a regulamentação do setor privado, que hoje serve somente aos interesses do mercado; segundo, combater o processo crescente de desnacionalização e mercantilização da educação no país; terceiro, estabelecer regras mais claras para a avaliação da qualidade educação privada, que vive um processo crescente de perda de qualidade e sucateamento; quarto, estabelecer uma política permanente de valorização dos trabalhadores em educação, fazer com que a juventude brasileira se sinta atraída para a carreira docente e por fim, estabelecer uma politica de Estado para colocar a educação em outro patamar. O país necessita de milhões de profissionais qualificados para sustentar esse novo ciclo histórico aberto no Brasil a partir de 2002.

 

Essa mudança passa pela valorização do professor?

 

Não existe educação de qualidade e um projeto de nação desvinculado da valorização dois profissionais em educação. Por isso é decisivo o debate em curso no país. Ou vamos estabelecer um novo patamar salarial pata a atividade docente e para os profissionais em educação, ou então não seremos capazes de elevar o país às condições históricas que hoje nos apresentam.

 

O Sinpro dará início nos próximos meses à campanha salarial 2012 da categoria com o mote “Valorização começa com ganho real”.Quais as principais reivindicações deste ano?

 

O centro da nossa pauta é justamente esse: a valorização dos professores da rede privada, que consiste nos três pilares acima descritos. Outro tema central em nossa campanha reivindicatória diz respeito a organização da categoria nos locais de trabalho, que é decisiva para o avanço de nossas conquistas e para a qualidade da educação em Minas e no Brasil.

 

Os professores da rede pública realizam durante três dias (14,15 e 16) uma grande paralisação nacional, que dentre outros pontos, reivindica o cumprimento do piso da categoria e a valorização do trabalhador. O Sinpro está apoiando?

 

Essa paralisação nacional é importante para denunciarmos os governadores e prefeitos que ainda insistem em não praticar o piso do magistério, aprovado no Congresso Nacional e STF, a exemplo do governo de Minas. Também é fundamental dizer que não aceitamos retrocessos na lei que estabeleceu o piso e reajuste anual. O Sinpro Minas, que esteve lado a lado na greve de 103 dias da rede estadual de educação com contribuição política, financeira e de comunicação, novamente apoia os colegas da rede pública estadual. A luta pela valorização dos trabalhadores em educação é uma só, na rede publica e privada.

 

Cinthia Ribas – Portal CTB

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