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Grupos educacionais lançam ações na Bolsa e crescem 67%

28 de agosto de 2008

Um ano após terem decidido oferecer ações na Bolsa de Valores, os quatro grandes grupos educacionais com essa estratégia cresceram 67% em número de alunos no ensino superior ao adquirir pequenas e médias instituições em todo o Brasil.De acordo com o último censo do MEC, a média do crescimento no número de alunos do setor particular no país foi de 10%, entre 2005 e 2006. Essa expansão acelerada foi possível graças ao aumento das receitas desses grupos (somadas, ultrapassaram R$ 700 milhões no segundo trimestre deste ano) e envolve até negociações no exterior.A Estácio de Sá, do Rio, concluiu neste mês a compra da Universidad de La Integración de Las Americas, do Paraguai, pelo valor de R$ 2,3 milhões. O grupo planeja também se expandir para o Uruguai.Já a Anhanguera, de São Paulo, chama a atenção pelo crescimento em número de alunos. Primeira a abrir capital, em apenas um ano, passou de 48 mil para 141 mil estudantes. Completam a lista o Kroton, de Minas, e o SEB, de São Paulo. Analistas dizem, porém, que outros irão por esse caminho.Eduardo Nishio, analista do banco UBS Pactual, lembra que essa mesma tendência aconteceu no setor de construção: “Quando as primeiras foram bem-sucedidas, outras seguiram o mesmo exemplo com medo de serem engolidas. Acho que acontecerá o mesmo com a educação”.”Vamos ter, em dois ou três anos, uns 15 grupos educacionais de capital aberto. Muitas, porém, terão que passar por um choque de gestão”, afirma o consultor em educação Carlos Antonio Monteiro.A mudança de um modelo muitas vezes familiar e filantrópico para outro com objetivos lucrativos e tendo que prestar contas ao mercado foi sentida na Estácio após a entrada da GP investimentos -maior fundo de participações em empresas do Brasil.A GP passou a exercer em maio o controle compartilhado da Estácio com a família de João Uchôa Cavalcanti, fundador da universidade. Em seguida, o reitor da Estácio, Gilberto Castro, foi afastado do cargo que ocupava havia 11 anos.Acostumados antes a lidar apenas com a gestão educacional, as empresas passaram também a sofrer com as oscilações do mercado. Na semana passada, por exemplo, o valor das ações do grupo Kroton teve queda de 20% depois de o banco Morgan Stanley ter colocado em dúvida a contabilidade dos resultados. A empresa divulgou uma nota negando qualquer tipo de irregularidade em seu balanço.

Um acompanhamento feito pela CM Consultoria, de Carlos Monteiro, aponta que o valor das ações desses grupos pode oscilar bastante. Desde o dia da oferta inicial até o fechamento do mercado na semana passada, somente o grupo Anhanguera registrava valorização de suas ações, de 56%.No caso da Estácio, o valor da ação na semana passada era 10% menor que o da oferta inicial, enquanto Kroton (-49%) e SEB (-50%) apresentavam as maiores reduções.

QualidadeO resultado dos grupos educacionais com ações em Bolsa em suas instituições de origem são próximos da média dos cursos avaliados pelo MEC de 2005 a 2007. Levantamento feito pela Folha com base no Enade (avaliação do MEC) mostra que, numa escala de 1 a 5, os resultados desses grupos variaram de 3,0 a 3,4. A média de todos os cursos do Brasil é 3,0.Na opinião de Maria Cristina Gramani, professora do Ibmec-SP que fez um estudo sobre a influência da qualidade na atratividade de instituições de ensino com capital aberto, é fundamental que os investidores analisem também a qualidade.”Não sou contra a abertura de capital e acho que isso pode resultar numa melhoria do ensino. Mas é preciso considerar também indicadores de qualidade. Avaliações ruins podem resultar no fechamento de cursos e na perda de estudantes”, afirma ela.

Sindicato reclama de demissão em massa Cerca de 600 docentes foram demitidos da Estácio de Sá

A relação dos grupos educacionais de capital aberto com os sindicatos de professores em suas instituições de origem nem sempre é amistosa. O sindicato dos professores do Rio acusa a Estácio de Sá de demissões em massa e de não respeitar a lei que determina que um terço do corpo docente de universidades trabalhe em regime de tempo integral. Segundo o Censo da Educação Superior do MEC de 2006, esse índice era de 23% na Estácio.João Rosas, diretor de relações com investidores da Estácio, diz que o total de demissões neste ano (cerca de 600) não difere do de outros anos e tem a ver com a avaliação dos docentes. Mesmo assim, diz, a rotatividade é de cerca de 6% dos funcionários. Sobre o percentual de professores em regime integral, diz que o patamar mínimo foi alcançado neste ano.Em Campinas, onde o grupo Anhanguera também atua, o diretor do sindicato dos professores, Reginaldo Meloni, diz que a relação com os docentes piorou e que o sindicato é impedido de entrar no local. No caso do Centro Universitário Anhanguera, o censo do MEC mostra que a entidade tem 20% de seus professores em regime integral, exatamente o percentual mínimo exigido para um centro.Antônio Carbonari Netto, fundador do Anhanguera, nega proibição à ação do sindicato e diz que os problemas com o órgão se limitam a Campinas. Em Minas Gerais, o presidente do sindicato dos professores do ensino particular do Estado, Gilson Reis, se queixa do grupo Pitágoras -que originou a Kroton. Procurados pela Folha, na semana passada, os dirigentes da Kroton não deram entrevistas.

Expansão não prejudica aulas, dizem grupos As instituições que, desde 2007, abriram seu capital afirmam que a expansão não prejudicou a qualidade do ensino. No caso do Anhanguera, o fundador do grupo, Antônio Carbonari Netto, diz que essa expansão acontece por meio de aquisições de grupos de pequeno porte. Ele afirma que há investimentos na capacitação do professor.João Rosas, diretor de relações com investidores da Estácio, diz que a expansão, feita por aquisições e aumento de unidades estabelecidas, foi “organizada e com qualidade.” O grupo SEB, por meio de sua assessoria de imprensa, diz que o grupo está acima da média nacional das avaliações pelo MEC.

Fonte: Folha de São Paulo

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