por Heloisa Villela, de Nova York (no Viomundo)
O gráfico acima é bem mais eloquente do que qualquer texto. A linha azul mostra o aumento dos lucros das empresas norte-americanas entre 1945 e 2011.
A linha vermelha revela o quanto elas pagaram de impostos, em relação ao Produto Interno Bruto do país, no mesmo período.
No estudo de 48 páginas, a organização Public Citizen explica como isso acontece e como o Congresso dos Estados Unidos trabalha para evitar que o fosso se feche, enquanto se engalfinha numa luta sem fim para reduzir o déficit do governo cortando o orçamento.
Claro, arrecadar o que é devido à sociedade não tem tanta importância quanto cortar a verba para os programas de educação, saúde, assistência social… especialmente no momento em que o país se arrasta para sair da crise criada pelo sistema financeiro que foi, este sim, bem tratado e socorrido com dinheiro público — enquanto a população pagou o pato, perdeu emprego e sofreu despejos.
No momento, existe uma briga no Congresso dos Estados Unidos (se é que se pode chamar de briga, quando a franca maioria está do lado do sistema financeiro) para reduzir a disparidade.
São três projetos de lei sob a artilharia pesada dos lobbies de Wall Street:
– Cut Unjustified Tax Loopholes Act (Lei para acabar com os buracos na lei de impostos)
– Stop Tax Haven Abuse Act (Lei para impedir que as empresas usem paraísos fiscais para esconder os lucros do Leão)
– Wall Street Trading and Speculators Tax Act (reestabelecer o imposto de 0,03% sobre transações financeiras)
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A Public Citizen, sempre de olho nas artimanhas políticas de Washington, fez as contas e descobriu que dos 386 lobistas que trabalham com estas leis, 331 (ou seja, 86%) representam os interesses das empresas.
A chance de que elas sejam aprovadas? Menos de 1%.
O setor financeiro responde, sozinho, por 30% dos lucros das empresas norte-americanas, mas paga apenas 18% do total de impostos recolhidos.
O volume de dinheiro investido para barrar as leis é infinitamente superior ao gasto na briga pela aprovação dos projetos.
É assim que se faz política quando o sistema permite e vê com bons olhos a participação do capital financeiro em todas as fases do processo, a começar do financiamento das campanhas políticas cada dia mais caras.
Esse abismo entre lucro e imposto pago talvez explique a aparente insensatez do mercado financeiro. Enquanto o sentimento geral no país é de desânimo, o desemprego continua alto e o número de pessoas empregadas ainda está muito abaixo do de seis anos atrás, as ações da Bolsa de Valores continuam subindo. Wall Street sorri. Computa os lucros. O povo, pena.
PS do Viomundo: É exatamente disso que se trata, também, no Brasil. A população exige melhores serviços públicos na saúde, transporte e educação. Mas, quem vai pagar a conta? Vai haver uma reforma tributária que cobre mais imposto de quem pode pagar mais?
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