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INSENSIBILIDADE DO PROFESSOR ANASTASIA

9 de setembro de 2011

Escrever sobre educação é bem mais difícil do que parece, pois nos faz pensar em questões mais profundas da nossa sociedade. Sabemos que a educação não é vista como de base, mas deveria ser. Não consigo imaginar um país do futuro com milhares de analfabetos e quando digo analfabetos não me refiro apenas a saber ler e escrever. Há jovens que não sabem pensar, que não são sujeitos críticos e sim pessoas capazes de apenas cumprir o que lhes é mandado sem questionar. A questão da educação no país não é apenas salarial. Enfrentamos problemas estruturais, de investimento do Estado e familiares também. Para se tornar um bom professor é necessário investimento. Até que um professor possa entrar em uma sala de aula, ser formado e estar preparado para isso é um longo caminho.

Hoje, a greve dos professores de Minas Gerais completa 93 dias. Algumas escolas de Nova Lima decidiram retomar as aulas, mas não surtiu efeito. Apenas cerca de 20 professores estão lecionando em cada escola, é somente uma medida paliativa, uma “ilusão de ótica”. Concordo que a greve prejudica os alunos, mas a questão é muito complicada, que só vai ser de fato resolvida com o término geral da greve, quando os professores tiverem suas reivindicações acatadas. Pode até não ser o melhor modo de reivindicar, mas a greve é um direito dos professores. A Constituição consagra o direito de greve como legítimo. Além do mais, os alunos são muito mais prejudicados quando há em sala de aula professores desmotivados e desvalorizados. Os professores se preocupam com os alunos sim, mas também querem melhorias em suas condições de vida. Para dar conta de sustentar uma casa, os professores têm que se desdobrar em dois ou até três turnos. A consequência tem sido professores cansados e doentes, o número de licenças é enorme. As aulas são mal preparadas, pois não existe tempo para uma pesquisa ou um estudo. As 24 horas que o governo paga não são suficientes para preparar trabalhos, corrigir 300 cadernos por semana, elaborar e corrigir provas.

Outra dificuldade enfrentada pelos professores é com relação à própria política de educação do Estado. Os parâmetros curriculares se divergem muito do que é cobrado nos vestibulares e no ENEM. Os alunos não são preparados para competir com alunos da rede particular. A partir do 2º ano, são formadas turmas por área de conhecimento, são três áreas que os alunos podem escolher: biológicas, humanas e exatas. Então há aumento das disciplinas específicas da área e diminuição ou até mesmo supressão de um determinado conteúdo. Sendo assim, o aluno da rede estadual já entrará em desvantagem em relação ao aluno da rede particular. É um absurdo dividir as turmas em humanas ou exatas para depois competir igualitariamente com alunos de escolas particulares que têm todas as aulas normalmente.

O Governador “PROFESSOR” Antônio Anastasia já poderia ter solucionado esta situação, não fosse sua má vontade com a educação do nosso Estado. Este Governador recebeu o meu voto, mas confesso com muito pesar que hoje me arrependo. Ele não fez jus ao meu voto e por isso não vai tê-lo nunca mais. Sugiro aos professores que façam um boicote e não votem neste Governador na próxima eleição. Se algum professor votar no Anastasia novamente, é um sem vergonha, sem princípios, que não valoriza a si nem a seus companheiros. O Senador Aécio Neves, afoito para ser Presidente do Brasil, só pensa em maquiar sua carreira política e nada fez em prol dos professores desde o seu governo. Se fosse de sua vontade, ele já poderia ter intervindo. É, Senador, você também nos decepcionou.

Os professores não estão lutando para ganhar bem, eles estão lutando para ganhar o que é de direito definido por lei. Eles reivindicam o imediato cumprimento do Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN), regulamentado pela Lei Federal 11.738. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) regulamentou esta lei que criou o piso, que determina que nenhum professor da rede pública com formação de nível médio e carga horária de até 40 horas semanais pode ganhar menos que R$1.187,97. Mas o Governador alega impossibilidade orçamentária para remunerar os professores, ou seja, ele afirma que o governo não tem como pagar o que é estabelecido por lei.  É muito cara de pau mesmo! É claro que os cofres públicos têm condições sim.

O “PROFESSOR” Anastasia quer impor o subsídio criado pelo seu governo de qualquer jeito. O subsídio estabelece uma remuneração mínima de R$ 712,20, acaba com biênios e quinquênios dos professores e não dá a chance de crescimento profissional. Custo a crer que essa proposta tenha partido de alguém que se diz professor. É de uma indecência profissional, moral e ética alguém que algum dia já exerceu tal profissão agir dessa forma. O Governador quer nivelar professores de nível médio, superior e até aqueles com pós-graduação e com tempo de serviço distintos no mesmo patamar com remuneração mínima de R$ 712,20. Assim, quem tem dez anos de serviço ou pós-graduação receberia o mesmo valor de quem está começando agora.

A greve vem sendo anunciada ao Governador desde janeiro, pois ele criou uma carreira de subsídio que ignora completamente o tempo de serviço dos professores e ainda se recusou a negociar. O Estado está jogando a carreira dos professores no lixo. A proposta do governo é uma covardia. Até mesmo o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que a greve dos professores é legítima e que os Estados deveriam ter se programado para cumprir a decisão do STF, que institui o piso de R$ 1.187,97. O governo teve três anos para se estruturar, então a culpa é dos governantes que não se organizaram para o cumprimento da lei.

Como o Governador “PROFESSOR” Anastasia pode falar que Minas tem qualidade de ensino? Que tipo de professor nossos filhos terão em sala de aula com um salário de R$ 712,20? Ele espera mesmo que bons profissionais sejam atraídos por esse salário ou pelo subsídio criado por ele?

O Governo está contratando novos professores para lecionar ao 3º ano do Ensino Médio. Com o salário que vão pagar a estes professores contratados, não dava para aumentar o salário dos que são concursados? As substituições que vem sendo propostas pelo governo custam a ele mais caro e serve para afrontar os professores, pois coloca pessoas despreparadas para ocupar os seus lugares. Os professores que estão sendo contratados não são formados ou são recém-formados e estão pegando as aulas como “bico”, então os alunos não estão sendo preparados para o ENEM e sim servindo de joguete. Os professores que estão trabalhando dão até quatro aulas na mesma turma para “tampar o buraco” dos professores que não retornaram. Alguns professores juntam turmas para dar aulas, às vezes as séries são até diferentes. Essa preocupação do governo é com a educação ou com as urnas? Vamos resolver esta questão logo, Governador! Já passou da hora.

A educação pública é uma questão social, é um problema de todos. Um país que não investe em educação corre o risco de gerar cidadãos acéfalos, alienados, desinformados, “presas fáceis” dos políticos mal intencionados. Até quando a educação será um peso para os cofres públicos? É preciso encarar a educação como investimento e não como gasto. O sindicato dos professores afirma que a greve só será encerrada quando for apresentada uma proposta que esteja de acordo com as reivindicações da categoria. Apoio esta decisão e sugiro que os pais e alunos se unam aos professores neste luta. Pois, só quando estes profissionais forem valorizados como merecem, teremos um ensino público eficiente e de qualidade.

WILSON OTERO FILHO – JORNALISTA

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