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Juventude negra é a maior vítima da violência no Brasil

20 de novembro de 2014

 

 
Em 2012, 56.000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30.000 são jovens entre 15 a 29 anos e, desse total, 77% são negros. A maioria dos homicídios é praticado por armas de fogo, e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados. Esses números alarmantes são baseados no Mapa da Violência 2014, que analisa dados do Sistema de Informações de Mortalidade (Sim), do Ministério da Saúde. 

O Mapa aponta ainda que os brancos têm morrido menos e os negros, mais. Entre 2002 e 2012, o número de homicídios de jovens brancos caiu 32,3% e o dos jovens negros aumentou 32,4%. O índice de vitimização negra total passou de 79,9% em 2002 para 168,6% em 2012. Isso significa que morrem proporcionalmente 168,6% mais jovens negros que brancos, o que representa um aumento de 111% na vitimização da juventude negra brasileira em uma década. 

Pesquisas mostram também que são os jovens negros, especialmente os moradores das periferias, as principais vítimas de violência policial no país: de cada 10 mortos pela polícia, sete são negros; são eles também que compõem grande parcela da população carcerária (38% tem de 18 a 29 anos e 60% são negros), segundo informações do Sistema Integrado de Informação Penitenciária, do Ministério da Justiça. 
 
Segundo o responsável pelo Mapa da Violência, Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), essa seletividade foi construída por diversos mecanismos, entre eles o acesso, por parte dos brancos, à segurança privada. “Os negros são excluídos duplamente – pelo Estado e por causa do poder aquisitivo. Isso faz com que seja mais difícil a morte de um branco do que a de um negro”, destaca o sociólogo. 

Para Bruno Vieira, jornalista e subsecretário do Fórum das Juventudes da Grande BH, a explicação para essa maior vitimização da juventude negra está em uma única palavra: racismo, que é uma questão histórica no país. “Muita gente tenta não colocar à tona, invisibilizar, mas o racismo existe sim e está entranhado na sociedade. Basta ver que a população de favelas e periferias, marginalizada, encarcerada, é, em sua maioria, composta por jovens negros. Isso acontece por uma ausência de políticas para a consolidação dos direitos já obtidos por essa juventude. A violação desses direitos também é violência”, adverte.

Genocídio

O envolvimento com o tráfico de drogas é uma das principais causas dessas mortes violentas. Para Laís Barbosa, cientista social do Fórum das Juventudes da Grande BH, há um genocídio da população jovem negra no Brasil. “O que mais mata não é a droga, mas a repressão exagerada. A guerra às drogas passa a ser uma guerra contra as pessoas”, afirma.

Para Marcelo Bizzotto, psicólogo do Centro de Atenção e Proteção aos Usuários de Tóxicos, o envolvimento dos jovens com as drogas se dá por conta de desigualdades sociais e também por problemas emocionais. “Há uma pobreza estrutural, material, que afeta grande parte dessa juventude, mas há também uma pobreza no sentido do afeto. São jovens que sofrem com a fragilidade dos laços sociais porque não tiveram em suas vidas uma história que favorecesse outro tipo de construção”, alerta.

O papel da escola

O diálogo sobre essa temática dentro do ambiente escolar pode ajudar a ampliar a consciência e a reduzir a violência contra a juventude. Em uma escola da rede particular de ensino de BH, estudantes do ensino médio participaram de um seminário com convidados em que puderam saber mais sobre a relação entre drogas e violência.

“Fomentar esse debate, trazer perspectivas distintas, é um dever do professor, para que cada aluno tenha condição de se posicionar de forma autoral e crítica diante desse assunto que é tão importante para a saúde e a segurança pública e diz respeito a todos os cidadãos”, avalia a professora de Sociologia, Paula Berbert. Segundo ela, tudo aquilo que diz respeito à vida de um jovem diz respeito também à escola. “A escola tem que preparar para a vida, não só para enfrentar o vestibular, o ENEM e outras provas”, completou.

Os alunos aprovaram a a iniciativa. “A abertura da escola para a discussão sobre drogas e violência é fundamental para termos uma visão mais ampla da realidade”, avaliou João Mafra, 18 anos. Luiza Valadares, 18 anos, disse que esses debates são importantes para o futuro da juventude. “É importante ensinar pra gente agora para passarmos uma atitude mais consciente para as gerações futuras”.

O debate fez parte das atividades do Fórum das Juventudes da Grande BH. Em agosto deste ano, o Fórum apresentou a Plataforma Política Juventudes contra a Violência, que estabelece 10 pautas prioritárias para o enfrentamento à violação dos direitos dos jovens. Entidades, professores e interessados podem aderir à Plataforma pela internet e podem também realizar atividades sobre o tema com a ajuda do Fórum.

Plataforma Política Juventudes contra a Violência 

Eixos programáticos:

1.     Acesso à justiça
2.     Democratização das comunicações
3.     Direito à cidade
4.     Enfrentamento ao genocídio da juventude negra
5.     Fortalecimento da democracia participativa
6.     Fortalecimento do sistema socioeducativo
7.     Novo modelo de política sobre drogas
8.     Novo modelo de segurança pública e desmilitarização das polícias
9.     Orçamento público para juventude
10.  Políticas sociais

www.juventudescontraviolencia.org.br

Jovem Negro Vivo

A Anistia Internacional lançou no dia 9 de novembro, no Rio de Janeiro, a campanha Jovem Negro Vivo, para chamar a atenção da sociedade sobre a violência assustadora contra a juventude negra. “A morte violenta não pode ser aceita como destino de tantos jovens. As consequências do preconceito e dos estereótipos negativos associados a estes jovens e aos territórios das favelas e das periferias devem ser amplamente debatidas e repudiadas”, destaca Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional Brasil. A Campanha convida a sociedade para assinar o manifesto “Queremos ver os jovens vivos”, que defende o direito a uma vida livre de violência e preconceito. Para assinar, acesse: www.anistia.org.brCecília Alvim – Jornalista

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