O Grito dos Excluídos deste ano, em sua 15.ª edição, levou para as
ruas de várias cidades brasileiras uma grande variedade de temas, o que
acabou diluindo as manifestações. O Grito dos Excluídos é organizado há
15 anos por várias pastorais sociais da Igreja Católica, organizações e
movimentos sociais.
Sob o lema
“Vida em primeiro lugar – A força da organização está na transformação
popular”, as manifestações citaram a indignação dos trabalhadores
contra os efeitos da crise econômica e as demissões, por emprego e
melhores salários, pela manutenção dos direitos e pela sua ampliação,
por Reforma Agrária e Reforma Urbana Já, em defesa dos nossos recursos
naturais (O petróleo tem que ser nosso!), contra a corrupção e a
impunidade e contra a criminalização da Pobreza e dos movimentos
sociais foram os motes “oficiais” da mobilização. A estas bandeiras,
várias outras foram agregadas em diferentes cidades.
Fortemente marcado pelo discurso religioso e o protagonismo de
lideranças ligadas à ala progressista da igreja católica, o ponto de
união em todas as manifestações populares desta 15ª edição do Grito foi
a ênfase na questão ambiental.
Em São Paulo, o Grito dos Excluídos serviu para mostrar que
existem pessoas inconformadas com atual situação do país, afirmou a
coordenadora da romaria a pé, Célia Leme. A caminhada foi iniciada
domingo, na Paróquia de Perus, e percorreu diversos pontos da capital
paulista, até a missa realizada na manhã desta segunda-feira, na
Catedral da Sé. Após o culto, os manifestantes caminharam até o
Monumento do Ipiranga.
Segundo Célia Leme, o movimento é importante para “fazer ecoar que,
apesar da aparente normalidade, tem gente que não está satisfeita com
essa situação”. Ela se refere tanto a problemas como a fome e a
violência como aos recentes escândalos no Senado Federal.
“A questão da crise no Senado está pegando muito forte. Mexeu forte com a população e com a sociedade organizada”, disse Célia.
No Rio de Janeiro, o Grito focou sua atenção no protesto
contra a violência policial em comunidades carentes. Segundo o membro
da comissão organizadora do Grito Leo Haua, integrante do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST), este é um momento único que precisa ser
usado pelos movimentos sociais para denunciar as injustiças sociais.
“Há alguns anos vem se desenvolvendo uma crise econômica no estado e
com isso também cresce a violência do estado contra quem mais sofre com
essa crise: a juventude negra das favelas principalmente, os
desempregados, os camelôs, que vem sendo criminalizados pelo sistema”,
afirmou em entrevista à Agência Brasil.
Em Vitória, pela primeira vez, o movimento social, que
geralmente encerra o desfile de 7 de setembro no Centro de Vitória,
ocupou outro espaço e foi realizado no mesmo horário do desfile
Cívico-Militar. O Grito dos Excluídos capixaba se voltou para a ética
na política neste ano. Com o auxílio de um carro pipa, os manifestantes
varreram e lavaram as escadarias do Tribunal de Contas do Estado (TCE),
Tribunal de Justiça (TJES) e Assembleia Legislativa do Espírito Santo
(Ales). Entre os assuntos alvos de críticas estavam a violência, a
corrupção e a crise política do Senado.
Um dos coordenadores do movimento e da Pastoral da Arquidiocese de
Vitória , Padre Kelder Figueira, destaca que a sociedade privilegia o
lucro, os bens de consumo e a exploração do trabalho em detrimento da
dignidade da vida do ser humano.
“A corrupção está associada à política e ao modelo econômico
estabelecido, e as instituições que deveriam se dedicar ao bem comum
legitimam a prática da defesa de interesses de pessoas e de
determinados grupos. Por isso esse gesto simbólico de lavar as
escadarias do Tribunal de Contas, de Justiça e da Assembleia
Legislativa”, afirma o padre.
“A gente veio gritar contra a violência da criança. Estamos denunciando
todos os tipos de violência,como abuso sexual, violência psicológica e
a pedofilia. Essa é uma forma da sociedade voltar os olhos para esses
problemas e dentro da própria família acontece essa violência”,
denuncia a representante da Pastoral da Criança, Rosilene Castro.
Em Curitiba, a manifestação do Grito dos Excluídos reuniu
cerca de 400 pessoas no aterro da Caximba. O local foi escolhido para o
evento, segundo o militante da Assembleia Popular Pedro Carrano, porque
o lixo e o modelo ideal de aterro foram, este ano, motivos de
discussões em diversas comunidades locais. “É um problema que Curitiba
está discutindo e que todas as cidades brasileiras terão de repensar. O
Grito faz parte de uma reflexão nacional, por isso contamos com a
participação popular”, diz.
Este ano, o Grito contou com a participação do movimento estudantil,
que pediu a abertura dos arquivos da ditadura militar. Além de falar do
problema do lixo, os militantes abordaram ainda as lutas dos povos
indígenas, a crise financeira internacional e o extermínio da juventude
pela violência e as drogas.
Em Belém, o evento chamou a atenção para questões como a
crise econômica e a violência na cidade.A caminhada começou às 8h, na
rua São Domingos e seguiu por várias ruas do bairro, sempre com paradas
em locais estratégicos como a delegacia, caixa d’água, posto de saúde e
uma escola do bairro. Em cada parada, as cerca de duas mil e quinhentas
pessoas fizeram uma explanação sobre os problemas recorrentes desses
locais.
“O que chamamos atenção é que não adianta a polícia estar na rua, com
viaturas, se não houver uma política de inclusão, que priorize a
educação e a saúde, para que os jovens não se envolvam com o consumo e
tráfico de drogas”, disse um dos coordenadores da programação, Eraldo
Rodrigues Júnior.
Os participantes também se posicionaram contra a privatização do
serviço de água e esgoto da cidade. ‘Estamos questionando a
privatização da água porque achamos que isso não vai trazer benefício
para a população’, comenta.Recife teve maior manifestação
Recife foi palco da maior manifestação desta 15ª edição do Grito dos
Excluídos. Ao contrário de outras cidades, na capital pernambucana, os
pedidos de “fora Sarney” e pelo fim do Senado foram feitos apenas por
integrantes da central sindical Conlutas e dos partidos políticos PSTU
e PSOL.
Cerca de 5 mil pessoas – representando mais de 50 entidades e
movimentos sociais – participaram do Grito dos Excluídos, em Recife,
que contou com um reforço de peso: o arcebispo de Olinda e Recife, dom
Fernando Saburido. Índios, representantes dos movimentos negros e gay e menores de rua engrossaram as fileiras da manifestação.
Segundo um dos organizadores do grupo, Jaime Amorim – que também é
coordenador regional do MST – os movimentos sociais preferiram “não
estreitar” o debate. Ele disse que com a exclusão social ainda
existente no Brasil não dá para comemorar o Sete de Setembro mas sim
“contestar” o modelo institucional brasileiro que está ultrapassado.
Na manifestação chamou a atenção um trio formado pelo “Presidente
Lula”, por “Barack Obama” e por um integrante com visual parecido com o
de Lampião. Todos sob a bênção de um boneco gigante encarnando dom
Helder Câmara, ex-arcebispo de Olinda e Recife, já falecido, e que
marcou sua passagem na Arquidiocese pelo trabalho em defesa de
perseguidos políticos e dos excluídos.
Portal Vermelho
com agências
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