O domingo (2) registra uma das mais tristes notícias para o país. Um incêndio de grandes proporções destrói o Museu Nacional do Rio de Janeiro, a mais antiga instituição da memória brasileira.
O Museu Nacional foi fundado por D. João VI, em 1818. É mantido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como o Museu do Ipiranga é mantido pela Universidade de São Paulo e também funciona precariamente. Mas a crise tem se instalado na UFRJ por causa dos sucessivos cortes de orçamento promovidos pelo governo golpista de Michel Temer.
“Essa é uma tragédia anunciada. O pouco caso com a cultura e a memória do país deixou o nosso principal museu em estado precário, sem a manutenção devida”, afirma Ronaldo Leite, secretário de Formação e Cultura da CTB.
Boa parte das 20 milhões de peças do acervo foi consumida pelo fogo. “É um absurdo constatar a destruição de nossa memória”, reclama Leite. O incêndio destruiu quase que totalmente o local onde foi assinada a independência do Brasil e também foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso de museu, em 1892.
A situação chegou a ser tão degradante que, de acordo com informações do jornal O Globo, chegou-se a anunciar uma “vaquinha virtual” para a preservação do museu.
O incêndio começou por volta de 19h30, do domingo (2). As causas estão sendo apuradas. Mas é notório “o descaso do governo federal com a coisa pública e muito mais ainda com a nossa história”, acentua Leite. Para ele, o neoliberalismo não se importa com o que não dá lucro.
“Não vai sobrar absolutamente nada do Museu Nacional”, afirma o vice-diretor da instituição, Luiz Fernando Dias Duarte, em entrevista à GloboNews. “Os 200 anos de história do país foram queimados”.
Ainda não há pistas do que pode ter iniciado as chamas. Segundo o Corpo de Bombeiros, o trabalho foi dificultado porque os hidrantes do museu estavam descarregados e foi necessário pedir o apoio de carros-pipa.
Já em fevereiro deste ano, Alexander Kellner, diretor do museu, reclamou ao jornal O Globo da falta de verba para a manutenção. “Felizmente essas pragas [morcegos e gambás] não têm aparecido no acervo, mas ainda podem ser vistas nas áreas comuns. O maior problema são as goteiras. Ficamos preocupados quando cai uma tempestade porque só temos verbas para medidas paliativas de prevenção”.
Para Leite, é fundamental que “a sociedade lute por um projeto nacional de desenvolvimento que valorize a cultura. É hora de reagirmos a essa destruição do nosso patrimônio e da nossa memória”.
Por Marcos Aurélio Ruy para o Portal CTB com agências. Foto: Reuters
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NOTA DE PESAR da ANPG – Associação Nacional de Pós-Graduandos
A Associação Nacional de Pós-graduandos vem a público manifestar seu profundo pesar pelo incêndio criminoso ocorrido neste dia 2 de setembro no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O Museu Nacional é a instituição científica mais antiga do país, foi criada por D. João VI, em 6 de junho de 1818. Com 200 anos de História e uma importância incalculável, histórica, cultural, afetiva para o país, o Museu possuía um acervo da ordem de 20 milhões de peças, o maior acervo de história natural e arqueologia da América Latina. Ainda abrigava nove cursos de pós-graduação alguns dos quais cotados entre os mais bem avaliados do país, centenas de pesquisas documentadas e em andamento.
O incêndio não foi um acidente ou uma fatalidade. Foi um crime. Representa toda a negligência e irresponsabilidade do poder público com as instituições públicas e o patrimônio histórico-cientifico-cultural do Brasil. Está diretamente ligado ao abandono das universidades públicas e ao total descaso desse governo com a ciência e tecnologia. Uma tragédia que já se anunciava pelos crescentes cortes de recursos necessários à sua manutenção.
Não é de hoje que a ANPG denuncia os sucessivos cortes despendidos às universidades públicas brasileiras e à ciência. Esta retirada brutal do orçamento das instituições tem reverberado em consequências reais, comprometendo funções básicas à sua manutenção. Isto tem conduzindo estas instituições a uma situação de extrema vulnerabilidade. Falta dinheiro para o trivial: água, luz, limpeza e pequenas reformas.
As políticas de austeridade implementadas pelo governo Temer têm conduzido a uma destruição concreta das universidades públicas e da ciência brasileira. A Emenda Constitucional 95 se materializou nesse incêncio, a consolidação cruel e nefasta da asfixia das instituições públicas no Brasil pós-golpe.
Junto com as chamas no Museu concretamente se vão anos e anos da História de um Brasil e acervo científico que construímos coletivamente e que virou cinzas graças ao descaso e abandono do poder público. Com elas, também se restringem as possibilidades para o futuro.
Que a nossa dor no dia de hoje se torne símbolo de luta em defesa do Brasil, da ciência e das nossas universidades públicas. Que saibamos reconstruir nossos caminhos.
Hoje iremos às ruas manifestar nosso luto, indignição, a defesa do Brasil, da ciência e das nossas universidades públicas. Manifestaremos em defesa do Museu Nacional, dos museus brasileiros e pela revogação da EC 95.
http://www.anpg.org.br/nota-de-pesar-museu-nacional-do-rj/
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NOTA DA ANPUH – Associação Nacional de História
Um incêndio de enormes proporções está destruindo milhares anos de história do Brasil e do mundo. O Museu Nacional está em chamas. Esta é uma perda irreparável. Quando um país desqualifica sua cultura, seu conhecimento e sua ciência. Quando se congela recursos para a ciência e a educação. Quando se despreza o passado, se compromete o futuro. A falta de recursos para a segurança, para as reformas necessárias, já vinha sendo denunciada há muito tempo. Esta irresponsabilidade tem nome e endereço.
A ANPUH-Brasil manifesta seu repúdio ao desprezo com que foi tratado o Museu Nacional nos últimos anos e responsabiliza todos os que deveriam ter preservado esta riqueza que agora está definitivamente perdida.
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NOTA DA SOCIEDADE DE ARQUEOLOGIA BRASILEIRA SOBRE O INCÊNDIO NO MUSEU NACIONAL
As lágrimas correm em nossos rostos enquanto os dedos trêmulos procuram as teclas para expressar tamanha dor e indignação em poucas palavras. Não temos como manifestar o sentimento de perda e a profunda tristeza que tomam conta de todas e todos nós. Gostaríamos que as lágrimas pudessem apagar o incêndio em nossa própria casa, o endereço oficial da Sociedade de Arqueologia Brasileira, no Rio de Janeiro, ali na belíssima Quinta da Boa Vista.A história da Arqueologia Brasileira, e de tantos outros campos do conhecimento científico, se fundem e se confundem com a do Museu Nacional. Coleções e mais coleções, acervos e mais acervos, bibliotecas, milhões de peças etc., todos de valor incomensurável à humanidade, ardem em chamas e viram cinzas. Bombeiros tentam apagá-las. Tudo parece em vão. “Está tudo perdido”, dizem colegas do Rio de Janeiro nas redes sociais. Emissoras de TV mostram o incêndio ao vivo, jornais divulgam mais e mais matérias sobre o assunto e muitos de nós, à distância, não sabemos o que fazer para ajudar a reverter a situação.O que dizer sobre isso tudo isso no calor da hora? Misturas de dor, indignação e tristeza tomam conta de nossos corações. Ali foi a residência de um rei, sabemos, mas também a casa de tantas outras pessoas que por lá passaram em busca de conhecimento, formação acadêmica e tantos outros propósitos. Somos testemunhas do clamor dos colegas do Museu Nacional por apoio e recursos para restaurar o prédio e melhor salvaguardar tudo aquilo que abrigava. São duzentos anos de história. Vivenciamos ali a formação altamente qualificada de tantos profissionais e de estudos em andamento, os quais agora estão comprometidos. Luzia, um dos mais antigos esqueletos humanos encontrados nas Américas, estava lá. Múmias egípcias, fósseis, documentos escritos, artefatos de origem indígena e tudo o mais, tudo em cinzas.Sem mais palavras, a Sociedade de Arqueologia Brasileira, ainda profundamente abalada, entristecida e enlutada, manifesta total solidariedade à Instituição e a todos os colegas de lá, repudia toda forma de negligência por parte de autoridades governamentais, as quais desde longa data tomaram ciência da necessidade de restauração da Instituição e praticamente nada fizeram, e ainda registra a disposição inabalável para somar naquilo de estiver ao seu alcance para somar na luta do Museu Nacional.Um país que não valoriza sua memória e seu patrimônio cultural está fadado à desgraça, ao atraso, à dominação e o seu povo a não saber de onde veio, quem é e para onde deve caminhar rumo à construção de um país mais solidário, justo e feliz.Somos todas e todos Museu Nacional!Brasil, 03 de setembro de 2018.Direção da Sociedade de Arqueologia Brasileira (Gestão 2018-2018)
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ABA em luto – Associação Brasileira de Antropologia
A memória nacional destruída por descaso governamental inconcebível. Acervos históricos destruídos . Patrimônio histórico destruído. Centro de trabalho e de pesquisas de antropólogos e arqueólogos e museólogos. Sentimentos profundos aos colegas antropólogos e arqueólogos que ali trabalhavam e ensinavam. Sentimentos profundos aos que lá estudam e a aos que lá estudaram. A Presidente da ABA em nome de todos antropólogos associados e certa de estar falando em nome de todos pesquisadores ou estudantes que lá passaram.
Nota do Comitê Patrimônio e Museus da ABA sobre tragédia ocorrida com o Museu Nacional
O Comitê de Patrimônios e Museus da Associação Brasileira de Antropologia vem manifestar sua mais absoluta consternação diante da tragédia ocorrida com o Museu Nacional no domingo último, dia 2 de setembro de 2018, quando o museu foi totalmente destruído por um incêndio justamente quando completava 200 anos de existência. Esta tragédia que afeta diretamente a Antropologia, destruindo um dos centros de excelência da Antropologia brasileira, e abarca importantes áreas da pesquisa científica no país, é fruto da falta de investimentos públicos com uma das mais relevantes instituições públicas do país, e resultado dos cortes progressivo de verbas para a Educação e Cultura no país, em particular da redução drástica do orçamento numa das mais relevantes universidades públicas do país. Conclamamos a todos e a todas que se mobilizem por uma política pública de proteção ao Patrimônio Histórico, ao Patrimônio Cultural e aos museus no país que vêm sofrendo um desinvestimento por parte da esfera pública. Ressaltamos que a participação do Estado na área do Patrimônio e dos museus é vital para a memória, a história e a diversidade cultural no Brasil. Repudiamos os discursos e as práticas que visam criar estratégias de convencimento de que seria possível a retirada dos investimentos do Estado neste setor, atribuindo para o mercado o que é de responsabilidade dos Governos. Estes discursos e práticas só têm contribuído para a deterioração das condições de trabalho no campo dos patrimônios e museus, gerando uma situação de precariedade causada pela terceirização que não proporciona as condições para o estabelecimento dos vínculos necessários ao trabalho de preservação, de conservação e de pesquisa no campo patrimonial e museal. Além disso, a retirada progressiva do Estado deste campo não assegura as condições de manutenção da infraestrutura adequada para a proteção de um setor estratégico para a memória e a cidadania no país. O incêndio e a destruição do Museu Nacional, resultado do asfixiamento dos orçamentos e das condições de trabalho e da ausência de uma política pública de preservação e de proteção das instituições de patrimônio e memória no país impõe uma luta sem tréguas pela defesa intransigente da proteção aos patrimônios e museus no país.
Entidade filiada ao
O Sinpro Minas mantém um plantão de diretores/funcionários para prestar esclarecimentos ao professores sobre os seus direitos, orientá-los e receber denúncias de más condições de trabalho e de descumprimento da legislação trabalhista ou de Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
O plantāo funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
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