Na última segunda-feira, 19/4, em coletiva de imprensa, a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou, entre outras medidas de flexibilização no enfrentamento à pandemia da Covid-19, a volta às aulas presenciais em escolas infantis. Com a decisão, ficam autorizadas aulas para crianças com idade entre zero e cinco anos e oito meses, a partir do do próximo dia 26 de abril.
Uma decisão que parece ir em contramão ao esforço de tentar barrar o avanço da pandemia, em um contexto ainda grave com relação a contágios e mortes. Unaí Tupinambás, médico infectologista e professor da UFMG e integrante dos Comitês de Enfrentamento à Epidemia da Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte / MG e da UFMG, explica que o cenário ainda não é favorável ao retorno.
Segundo ele, em uma realidade de tamanha desigualdade social, foi necessário pensar uma alternativa com relação às crianças mais vulneráveis. Para ele, a ideia não seria “volta às aulas”, mas uma estratégia de ocupação das UMEI’s, oferecendo algum acolhimento a essas crianças e famílias.
Infelizmente, a Prefeitura não levou em consideração essas distintas e desiguais realidades. A decisão de volta às aulas para o ensino público e privado significa mais de 100 mil crianças em circulação, sem contar pais, mães, trabalhadores/as da educação. O médico infectologista explica que a incidência de casos é uma das métricas utilizadas por várias instituições para avaliar a possibilidade de volta às aulas presenciais. “Existe uma taxa que estipula uma maior segurança com base em 20 a 50 casos por 100 mil habitantes. Não é o nosso caso. Hoje, em Belo Horizonte, temos 470 casos por 100 mil habitantes. É uma taxa alta ainda”, destaca.
Unaí ainda chama a atenção para o fato de que os meses de abril e maio são muito propícios à proliferação de doenças respiratórias entre crianças, o que é preocupante em um contexto de pandemia.
Outro apontamento que faz o médico e infectologista é que já é ultrapassado pensar em grupos de risco, diante das novas cepas do vírus que apresentam. “Temos percebido uma transmissão mais facilitada, um rejuvenescimento da pandemia, em que mais jovens estão chegando a uma situação grave, inclusive aumentando a mortalidade entre 30 e 50 anos, que embarca grande parte de professores/as das escolas primárias”, afirma.
Insegurança com relação a protocolos
Os dados citados pelo médico Unaí Tupinambás é uma das preocupações sobre as consequências desse retorno para toda a comunidade escolar e para os/as trabalhadores/as. Valéria Morato, presidenta do Sinpro Minas, além de denunciar a falta de diálogo da Prefeitura com relação ao retorno presencial, manifesta preocupação com a efetivação de protocolos necessários. “A volta foi anunciada e até hoje só temos acesso a um protocolo do ano passado, que não levava em consideração os impactos da nova cepa. Os dados não mentem. A grande maioria de professores/as está na faixa etária alvo de contágio e mortes neste momento”, destaca.
Unaí Tupinambás ressalta que além de seguir com as medidas de proteção tomadas até aqui, ampliando, inclusive, para o uso de duas máscaras, é extremamente necessário a testagem de estudantes e trabalhadores/as no ambiente escolar. “Aquela criança, trabalhador/a que estiver com sintoma, não deve ir à escola. É preciso garantir que todas as pessoas sintomáticas, façam o teste o mais rápido possível. Confirmando o caso, isolar a sala, a bolha, para não disseminar a doença”, reforça.
Com base nessas orientações, Valéria Morato questiona o compromisso e os fluxos de monitoramento nas escolas para que as medidas sejam cumpridas. “Sabemos que tudo isso acaba recaindo sobre os/as professores/as. Estamos falando de educação infantil. É um desgaste a responsabilidade de manter crianças tão pequenas em distanciamento. E existe também um desgaste emocional, a preocupação desses/as trabalhadores/as se estão sendo contaminados/as ou contaminando seus familiares. Já estamos vendo isso em outros municípios que retornaram”, reflete.
Guerra ideológica
Outra preocupação que vem à tona com a volta às aulas presenciais é com relação à quantidade de informações falsas que circulam, defendendo que a abertura das escolas não oferecem risco.
A APUBBH UFMG+ – Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco – realizou, na última terça-feira, 20/4, uma live sobre os efeitos do lockdown para a contenção da pandemia.
No debate, o professor Luiz Duczmal, do departamento de Estatística da UFMG, destacou um artigo publicado neste mês de março na revista “Science”, uma das principais referências científicas do mundo, que justamente descontrói diversas fakenews sobre a “segurança” das aulas presenciais. “As crianças, apesar de terem sintomas muito mais leves (…) carregam carga viral que não difere de maneira significativa dos adultos. O problema de abrir escolas é que as crianças se contaminam entre si e depois podem contaminar professores/as, pais, mães, avós, etc.”, reforçou.
Na oportunidade, citou outro artigo, também publicado na revista “Science”, que aponta que entre os fatores de redução da propagação do vírus, está o fechamento de escolas e universidades: representando uma redução de cerca de 40% de casos.
Volta segura só com vacina
Para Valéria Morato, basta respeitar as informações científicas para ver o quão arriscado é para toda a comunidade escolar uma volta às aulas sem a vacinação. “Nunca vamos deixar de ressaltar que somos defensores do ensino presencial, mas com segurança, com vacina e testagem para a categoria docente. A Prefeitura se quer deu espaço para essa reivindicação”, aponta.
O médico infectologista Unaí Tupinambás reforça a importância da manutenção do ensino remoto neste contexto, para todos/as que podem seguir em casa. “Eu mesmo digo às pessoas próximas, familiares a não retornarem às aulas presenciais neste momento. Podemos até estar caminhando para uma redução lenta e gradual de casos em Belo Horizonte, mas a situação no país, em Minas Gerais, é dramática”, enfatizou.
Além disso, também reforça a importância da vacinação de toda a população e em um contexto de volta às aulas, dos/as trabalhadores/as da educação. “Não justifica retornar às escolas sem tomar a vacina, expondo os/as professores/as ao risco. Devemos voltar com a vacina de todos os trabalhadores/as da educação. Não se justifica colocar a população em risco”, defendeu.
Para a presidenta do Sinpro Minas, a ciência continua sendo a referência para a luta do sindicato neste momento. “Todas as nossas reinvindicações neste momento são amparadas em estudos comprometidos com a vida, não podemos deixar que tantas informações equivocadas ceguem a população para o risco de uma flexibilização inconsequente neste momento”. Reafirma ainda que o Sinpro Minas segue tomando todas as medidas cabíveis em defesa dos direitos dos/as professores/as e segue aberto às duvidas e denúncias da categoria neste momento.
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Entidade filiada ao
O Sinpro Minas mantém um plantão de diretores/funcionários para prestar esclarecimentos ao professores sobre os seus direitos, orientá-los e receber denúncias de más condições de trabalho e de descumprimento da legislação trabalhista ou de Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).
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