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O Brasil da mídia e o país real

17 de março de 2014

Hoje
quando abrimos jornais, ouvimos o rádio e vemos as TVs comerciais o
retrato é de um país à beira do abismo, tudo vai mal. Situação de quase
pleno emprego, milhões de pessoas retiradas da miséria pelo Bolsa
Família, pacientes atendidos em cidades que nunca haviam visto um médico
antes são apenas alguns exemplos do Brasil ignorado pelo jornalismo
“independente”.Em março de 1964, o quadro era semelhante embora
houvesse um fantasma a mais, além do descalabro administrativo: o
“perigo vermelho” representado pelo comunismo. Para mídia ele estava às
nossas portas.A televisão e demais meios de comunicação se
prestavam a esse serviço de doutrinação diária azeitados por fartos
recursos vindos de grandes grupos empresariais canalizados por meio do
Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes) e do Instituto
Brasileira de Ação Democrática (Ibad), em estreita colaboração com a
agência de inteligência dos Estados Unidos, a CIA. O principal
mensageiro televisivo dos alertas sobre a “manipulação comunista” do
governo Goulart era o jornalista Carlos Lacerda. Apesar de afinados
ideologicamente com os golpistas, os veículos de comunicação não faziam
isso de graça.Segundo o economista Glycon de Paiva, um dos
diretores do Ipes, de 1962 a 1964 foram gastos nesse trabalho de
desinformação US$ 300 mil a cada ano, em valores não corrigidos. Os
dados estão no livro O Governo João Goulart, As Lutas Sociais no Brasil 1961-1964, do historiador Moniz Bandeira.“O
Ipes conseguiu estabelecer um sincronizado assalto à opinião pública,
através do seu relacionamento especial com os mais importantes jornais,
rádios e televisões nacionais, como: os Diários Associados (poderosa
rede de jornais, rádio e TV de Assis Chateaubriand, por intermédio de
Edmundo Monteiro, seu diretor-geral e líder do Ipes), a Folha de S.Paulo
(do grupo de Octavio Frias, associado do Ipes), o Estado de S.Paulo e o
Jornal da Tarde (do Grupo Mesquita, ligado ao Ipes, que também possuía a
prestigiosa Rádio Eldorado de São Paulo)” relata René Armand Dreifuss
no clássico “1964: a conquista do Estado”. Foi um período longo
de preparação do golpe, e quando ele se concretizou a mídia ficou
exultante. O Globo estampou manchetes do tipo “Ressurge a democracia”,
“Fugiu Goulart e a democracia está sendo restabelecida”. Sob o título
“Bravos Militares”, o jornal da família Marinho, no dia 2 de abril de
1964, dizia que não se tratava de um movimento partidário: “Dele
participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira”. O
Estadão seguia na mesma toada, enfatizando “o aprofundamento do
divórcio entre o governo da República e a opinião pública nacional”.Foram
necessários 50 anos para termos a confirmação que o tal divórcio não
existia. Pesquisa do Ibope, feita à época, e só agora revelada graças ao
trabalho do historiador Luiz Antonio Dias, da PUC de São Paulo mostra
que 72% da população brasileira apoiava o governo. Entre os mais pobres,
o índice ia para 86%. E se Jango pudesse se candidatar nas eleições
seguintes, previstas para 1965, tinha tudo para ser eleito. Pesquisa de
março de 1964 dava a ele a maioria das intenções de voto em quase todas
as capitais brasileiras. Em São Paulo, a aprovação do seu governo (68%)
era superior à do governador Adhemar de Barros (59%) e à do então
prefeito da capital, Prestes Maia (38%).Dados que a mídia nunca
mostrou. Para ela interessava apenas construir um imaginário capaz de
impulsionar o golpe final contra as instituições democráticas.(*) Artigo publicado na Revista do Brasil (edição de março de 2014 Fonte: Carta Maior

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