Bravo! Aplausos! As galerias do Palácio das Artes empapuçadas em palmas de um público delirante com a uma vitoriosa apresentação sinfônica. Assim a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais deveria receber o honroso Prêmio Carlos Gomes de Música Clássica de 2010, o mais importante da música erudita brasileira.
Em um concorrido evento realizado em São Paulo, o resultado foi divulgado nesta quarta-feira (5) e premiou as melhores produções, grupos e cantores de 2009. A montagem A Menina das Nuvens, de Heitor Villa-Lobos, que a OSMG apresentou no Grande Teatro do Palácio das Artes em setembro, sagrou-se a grande vencedora da noite.
Recebeu os prêmios de Melhor Espetáculo de Ópera, Cenário (Rosa Magalhães), Iluminação (Pedro Pederneiras), Regente de Ópera, (Roberto Duarte) e Cantora Solista (Gabriella Pace). O maestro Roberto Tibiriçá, atual regente titular da OSMG, foi eleito Regente Sinfônico de 2009, por seu trabalho frente a Orquestra de Heliópolis.
Roberto Duarte, maestro eleito o melhor Regente de Ópera de 2009, dividiu a premiação com a equipe de direção e destacou o comprometimento e o trabalho da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, que “encarou o desafio de enfrentar uma partitura ainda manuscrita e não mediu esforços para interpretar a obra de Villa-Lobos”. Tradição Quem acompanhou a luta dos músicos da Orquestra Sinfônica nestes últimos anos entende bem o que significou esta vitória para a música mineira. A OSMG foi fundada em 1979 e já emocionou muita gente no Grande Teatro do Palácio das Artes em óperas inesquecíveis. Já foi acompanhada por milhares de vozes nas relvas do Parque Municipal em eventos como o Domingo no Parque. Foi vista por mineiros de todos os cantos por entre montanhas nas centenas de apresentações por cidades nas muitas minas gerais afora.
Apesar da sua tradição e de ser um patrimônio do povo mineiro, em 2006 a então secretária de cultura do governo Aécio Neves, Eleonora Santa Rosa (que nada tem de Rosa e muito menos de Santa, vide os processos no Ministério Público), tentou acabar com a OSMG. Fez de tudo para transformá-la em uma OSCIP (Organização Social de Interesse público). Para o bem da nossa música, um grupo de músicos resistiu à mudança. Eles não concordaram com a proposta de abandonarem a carreira no Estado, conquistada por meio de concurso público, e passarem a fazer parte de uma entidade privada. Depois dois anos de negociações, os “rebeldes” recorreram às vias judiciais e foram para a rua em inúmeras manifestações. O Tribunal de Justiça concedeu liminar favorável à ação popular movida pelos músicos, não só mantendo-os como funcionários públicos, mas também assegurando a manutenção da existência da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, que deveria continuar vinculada ao Estado.
Estranha relaçãoPatrocinada por Santa Rosa, manteve-se a criação da OSCIP, no início com o desplante de usar o mesmo nome da OSMG. Com uma nova derrota na justiça, a entidade foi obrigada a mudar o nome para Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Da criação até hoje, a OSCIP é sustentada por uma estranha relação público-privada, com previsão de receber este ano milhões de reais dos cofres do Estado, além de funcionar nas dependências do Palácio das Artes.Por estas ironias boas que o destino nos dá, a OSMG depois de desbancar outros dez concorrentes, venceu na finalíssima do Prêmio Carlos Gomes justamente a Orquestra Filarmônica de MG, além da OSESP (de São Paulo). As três Orquestras disputaram no voto popular e na escolha de jurados.
Na época dos tempos mais difíceis, Fernando Santos, um contra-baixista que está na Sinfônica há 15 anos, desabafava: “Só deus sabe o que passamos e estamos passando, mas estamos contentes porque a resistência tem valido a pena, na prática, a histórica OSMG permanece altiva, para desgosto dos que a queriam ver morta.”
Eufórico com o resultado do Prêmio Carlos Gomes, na manhã desta quinta-feira (6) o mesmo Fernando, que é vice-presidente da Associação dos Músicos da Orquestra Sinfônica era só alegria. Abraçado com seus colegas de Orquestra, Fernando conta que valeu a pena muito lutar pela manutenção da Instituição Pública e que a premiação traz força para buscar as próximas conquistas, como completar o quadro de músicos, substituindo os que migraram para a Filarmônica.
La TraviataDepois de tanto merecimento, a Orquestra vai ter a oportunidade de receber os aplausos entusiasmados de um Palácio das Artes lotado, imaginado no início do artigo. Será a partir do dia 18, com a apresentação da ópera “La Traviata”, de Giuseppe Verdi, que fica em cartaz também em 22, 25, 26 e 27 de maio. A OSMG abrirá a temporada 2010 com aquela que foi a primeira peça apresentada no Palácio das Artes, logo após a finalização de suas obras e inauguração oficial, em agosto de 1971.
Como uma combinação de significados, o troféu de Melhor Espetáculo de Ópera do Prêmio Carlos Gomes foi entregue em São Paulo pelas mãos de Niza de Carlos Tank, que representou Violeta Valery – protagonista da ópera La Traviata – no Palácio das Artes, na apresentação de 1971.
Os prêmios que chegaram em boa hora vieram além de brindar o fabuloso trabalho da Orquestra, ensinar que tem coisa que o dinheiro não compra e muito menos consegue destruir: a tradição, a altivez e a boa música são algumas delas. Bravo Orquestra, vocês deixam os mineiros cada vez mais orgulhosos, por seu talento, perseverança e senso de justiça.
Fonte: Vermelho Minas
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