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Pochmann: Crise deve ser vista como oportunidade para o Brasil

26 de novembro de 2008

A crise econômica mundial deve ser encarada como uma oportunidade para que o Brasil ocupe os espaços que surgirão com a construção da nova ordem econômica e social no mundo. Essa é a visão que presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, defende para o País. Ele participou de um debate sobre a crise econômica  promovido pelo Bloco de Esquerda – formado pelo PSB, PCdoB, PDT, PMN e PRB – na Câmara dos Deputados, na tarde/noite desta terça-feira (25).

Pochmann (ao microfone) elogiou o debate: ”Saída é política”

Pochmann elogiou a iniciativa do debate, lembrando que a crise não deve ficar restrita às esferas da economia e aos setores e grupos de interesse afetados que se manifestam na imprensa e junto ao governo. “A crise é complexa e de longa duração e terá efeito amplo em toda a sociedade e a ausência da política não nos ajuda”, afirmou, enfatizando que “a saída é pela política.”

As oportunidades para o Brasil se materialização, na opinião dele, em mudanças tributárias, que não dependem da reforma tributária que está sendo analisada pela Câmara dos Deputados. Segundo Pochmann, podem ser adotadas medidas infraconstitucionais que alteraria a forma da arrecadação, garantindo maior tributação para os ricos. E exemplificou com o fato das prefeituras não cobrarem IPTU progressivo, o que faz com que as mansões paguem menos que os casebres.

Outra medida defendida por Pochmann é a redução do gasto público, destacando que o governo gasta muito com pagamento da dívida com juros exorbitantes. O Brasil gasta duas vezes mais com juros do que gasta com educação. “Gastos improdutivos, que não geram emprego, só confortam os privilegiados do País”, critica.

Essas mudanças produziriam mais proteção aos de baixo como Pochmann define os pobres. Ele quer ainda um programa de garantia de emprego no Brasil, não apenas seguro-desemprego, uma espécie de PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento), para que houvesse investimento nas estruturas sociais, lembrando que “as mazelas são grandes.”

Ocupando espaço

Evitando apresentação de dados e números, para não cansar a platéia, Pochmann priorizou, em sua fala, conceitos e opiniões sobre a crise. Ele destacou que é preciso alterar a perspectiva de vida hoje que está baseado no “ter”, no consumo desenfreado de bens, lembrando que ele inclusive é “incompatível com a sustentabilidade do mundo.”

A situação atual do Brasil é melhor do que a de duas décadas atrás. Pochmann enumerou como vantagens desse crescimento recente, o aumento da renda per capita, a diminuição do desemprego e recuperação da massa salarial, que ocorre principalmente pela elevação do salário mínimo, já que a expansão do emprego se dá nos setores de salários menores.

Para ele, os indicadores positivos refletem o passado; a crise pode interromper essa trajetória, portanto é fundamental que haja defesa da produção e do nível de emprego. “O esforço deve ser nesse sentido”, alerta. Ele defendeu a elaboração de projetos de médio e longo prazo para que o Brasil passe a ocupar espaço no mundo multipolar que substituirá a situação atual de hegemonia norte-americana.

 

Ele destacou como positivas as medidas anticrise adotadas pelo governo brasileiro, que lançou mão de R$150 bilhões para conter os efeitos da crise junto ao sistema financeiro, mas enfatizou que essas medidas só dão conforto no crédito e agricultura e bens de alto valores unitários como automóveis e imóveis. “Atende a pressão dos de cima”, afirmou.

“Como os de baixo estão fazendo pouca pressão, as medidas para eles não se manifestaram”, disse Pochmann, que defende “medidas mais ousadas que atenda os de baixo, do contrário eles sofrerão mais.”

Mundo pós-crise

Na avaliação sobre a natureza da cise, com que abriu sua exposição, o palestrante disse que mesmo sem querer alarmar, a crise não ficará restrita à esfera econômica. E disse ainda que não se pode dimensionar o tamanho por que não há contabilidade dela devido o efeito da desregulamentação que permitiu operações “sombras”, que ocorreram à margem do sistema financeiro.

Ele acredita que o mundo pós-crise será diferente do que conhecemos, porque pôs por terra todo o emaranhado do neoliberalismo. Ele avalia que as duas principais razões para o surgimento da crise foram a redução do papel do Estado como ente regulamentador do sistema econômico-financeiro e o crescimento da riqueza de forma concentrada e a péssima distribuição de renda que se verificou nas três últimas décadas.

Para ele, as oportunidades para o Brasil surgem com a identificação de que a crise desloca a economia norte-americano do centro dinâmico do mundo. E, do mesmo jeito que a crise de 1929 representou o fim da hegemonia inglesa, essa significa o fim da hegemonia norte-americana. O cenário é de formação de uma economia multipolar, com vários pólos dinâmicos no mundo. E cita como exemplo o crescente espaço da Ásia na economia mundial.

Para a formação desse mundo multipolar, ele defende a idéia de criação de outros espaços para garantir a funcionalidade da governança. A ONU e suas agências – FMI e Banco Mundial – estão muito distantes da capacidade de reorganizar o mundo, diz Pochmann, explicando que a ONU foi criada no pós-guerra quando os países eram mais importantes que empresa.

No mundo de hoje, o controle da economia mundial é feito por 500 grandes corporação, com faturamento de 46% do PIB (Produto Interno Bruto) do mundo. “O sistema ONU está despreparado para lidar que essa realidade, de concentração e centralização de capitais”, alerta, defendendo o G-20 como o sistema capaz de garantir a funcionalidade da governança, mas tem que ir além do sistema da ONU, com fortalecimento de políticas públicas.

Portal da CTBDe BrasíliaMárcia Xavier 

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