A situação da educação no Brasil não é satisfatória. Tanto no setor público quanto no privado. No setor privado, assistimos à crescente mercantilização e a ausência de regulamentação pelo Estado. No setor público, fica flagrante a falta de investimentos significativos, que atinjam um padrão mínimo e aceitável de qualidade. Fato é que, em ambos os casos, quem paga a conta do descaso com a educação são os professores e, consequentemente, seus alunos. Professores não valorizados, mal pagos, sobrecarregados e sem condições do pleno exercício das suas funções em sala de aula é um dos principais pontos de comprometimento da qualidade da educação.
Trazendo o foco para a educação em Minas Gerais vemos que o cenário não é diferente do resto do país. Ao contrário, assistimos ao “estrangulamento” da categoria dos trabalhadores da educação com o descumprimento de princípios básicos que norteariam o bom desempenho de suas funções. Por exemplo, no setor público o governo do estado descumpre a lei do piso salarial dos trabalhadores da educação, uma lei federal e que urge ser cumprida. Assistimos a embates constantes entre os trabalhadores da educação e os gestores sem que, esses últimos, tenham a dignidade de negociar com as entidades representantes dos trabalhadores – os sindicatos – para a busca de um consenso mínimo. Notadamente, percebe-se aí traços claros de autoritarismo dos gestores com relação à condução da política de educação.
Em Belo Horizonte, os últimos acontecimentos têm nos levado a momentos de muita reflexão e estarrecimento, principalmente diante da postura da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte no que tange à relação com os trabalhadores da educação da rede municipal. Principalmente em se tratando de um segmento historicamente vulnerável e ainda menos valorizado que é o das professoras da Educação Infantil.
Em greve há mais de 40 dias, as professoras da educação infantil de Belo Horizonte têm enfrentado a hostilidade da Prefeitura de Belo Horizonte, manifestada por meio da Secretaria Municipal de Educação – SMED, por lutarem por melhores condições de trabalho, plano de carreira que lhes assegure a valorização e o reconhecimento como professoras, e também em busca do cumprimento do piso salarial nacional.
A greve, declarada em 14 de março do corrente ano, tem como pauta de suas reivindicações a unificação da carreira – que significa o fim da desigualdade entre professor da educação infantil e os demais segmentos de professores municipais. Desde que foi criado o cargo de Educador Infantil em 2003, a categoria luta pela sua inclusão na carreira única de professor na Rede Municipal de BH. Através desta luta, no início de 2012, o prefeito Marcio Lacerda enviou proposta de Projeto de Lei que transforma a nomenclatura do cargo de Educador Infantil para PROFESSOR de Educação Infantil. No entanto, o PL não prevê alteração no salário nem na carreira. Ou seja, ainda persiste a discriminação entre segmentos da mesma categoria, que, inclusive, exercem a mesma função. Na capital há 60 UMEIS (Unidades Municipais de Educação Infantil) e 20 escolas com educação infantil, atendendo a 21 mil estudantes. O salário inicial de uma professora da educação infantil corresponde a 61 % do salário de um professor também iniciante na rede. E é de se salientar que a maioria das professoras da educação infantil possui nível superior.
A última medida da SMED, com relação à greve, mostrou com clareza a forma desrespeitosa e anti-democrática que a prefeitura municipal vem tratando o assunto. A responsável pela SMED, Macaé Maria Evaristo, soltou um comunicado, diante da ausência de negociações com a categoria, declarando que a prefeitura irá “comprar” – ainda que temporariamente – vagas para os alunos das UMEIs em escolas particulares como forma de “furar” a greve da categoria. De acordo com o órgão, o comunicado foi publicado na quinta (19/04) no Diário Oficial do Município (DOM).
Entendemos que essa medida demonstra que a SMED não intenciona qualquer tipo de negociação com as professoras. Ficam alguns questionamentos e entendimentos óbvios diante de tal postura da PBH:
1) Se há dinheiro para a compra de vagas nas escolas particulares, há como, minimamente, iniciar as negociações para equiparação da carreira de professor em toda a rede;
2) Como fica a situação das mais de 100.000 crianças que aguardam por vagas nas UMEIs, tendo em vista a compra de vagas nas escolas particulares para as atualmente matriculadas na rede? Dois pesos, duas medidas? Não se pode dar tratamento diferenciado às crianças;
3) A atitude desrespeitosa da prefeitura confronta com os anseios de valorização das professoras da Educação Infantil, afronta o direito constitucional de greve e demonstra sua incoerência ao repassar dinheiro à iniciativa privada ao invés de pagar salários justos às professoras da Rede Pública Municipal;
4) A SMED parece ignorar os princípios básicos que regem a infância, não considerando que mudar uma criança pequena de escola, em meio a um processo educacional já iniciado, traz conseqüências negativas ao desenvolvimento da mesma;
5) Outro aspecto a se salientar é a ausência de um posicionamento público do Conselho Municipal de Educação, tendo em vista seu âmbito de atuação – rede pública municipal –, ante os impasses observados entre a categoria e os gestores municipais de educação. Impasses, esses, que resvalam no atendimento a milhares de crianças que residem na capital mineira.
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Em assembleia, realizada no dia 21 de abril, no Sinpro Minas, os professores da rede particular de ensino de Minas Gerais aprovaram por unanimidade uma moção de apoio à greve das professoras da educação infantil do município e em repúdio à atitude da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
Assim como diversas outras entidades que já se manifestaram, também compreendemos que a luta das professoras da educação infantil pela valorização da sua carreira é uma luta ampla, de toda a cidade, pelo acesso e pela qualidade da educação.
Tendo em vista os aspectos aqui salientados de descaso com a educação, juntamo-nos às demais entidades solicitando ao prefeito Marcio Lacerda a abertura imediata da negociação com as professoras em greve e o atendimento à sua justa reivindicação de serem tratadas verdadeiramente como professoras qualificadas e importantes para o processo educacional e de desenvolvimento das nossas crianças.
Diretoria do Sinpro Minas
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